Uma gota de suor escorria pela face tisnada de Avaro. Sobre os cabelos umedecidos, o elmo de aço reluzia o sol que se estabelecia inerte sobre a grande embarcação. Agarrava firmemente a lança e o escudo, tentando ignorar os gritos dos homens que se aglomeravam ao redor - Diferentes tons de peles castigadas pelo sol, feições aquilinas e caucasianas em faces carrancudas, os marujos clamavam por sangue. Avaro olhou pra cima e observou sete homens, trepados nos cordames e nos mastaréus, aguardando a contenda, como macacos em galhos. Um cheiro de suor velho pairava no ar e o balançar do navio era nauseante. Manteve-se firme até seu oponente chegar e só percebeu sua aproximação ao observar os piratas trocando empurrões. Uma cotovelada tirou um magricelo escorbuto do caminho, e por cima do corpo que jazia desajeitado, ele surgiu;
-EU SOU THERON DE SERGÓVIA! _Gritou o desafiante; Um gordo de corpo lustroso, barriga protuberante e braços rijos. Sua cabeça era raspada, exceto por um rabo de cavalo no topo do crânio, e usava apenas um calção comprimido por um cinto. Em sua mão direita, uma espada longa feita de aço bruto ansiava em provar do sangue. Os gritos incentivavam o brutamonte a partir Avaro no meio; aparentemente um homem cuja reputação fora construída sobre uma base sólida de força, impiedade e morte. Ele estava lá para matar ou morrer.
Fez ecoar um grito de ódio e investiu contra Avaro, com os pés descalços martelando as tábuas do convés. Fixando as pernas como troncos, o soldado se posicionou para frente e surpreendeu o pirata, colocando abruptamente o escudo contra o rosto desprotegido do oponente. O estampido seco da pancada calou a turba, e Theron se afastou cinco passos, titubeando. O nariz do brutamonte se entortou de forma surpreendente, melado pelo sangue que besuntava seu bigode denso. Avaro reforçou a posição cercando o adversário, que após sentir o gosto do sangue, gritou em fúria, exibindo seus dentes avermelhados. Mais uma vez, para deter a investida, Avaro colocou seu escudo, mas fora inibido com um golpe feroz - O tilintar ecoou pela embarcação. Com a guarda aberta, expôs a costela direita para um corte ardente. Conteve o urro de dor e colocou o escudo na frente da ferida, estocando o ar em tentativas frustrantes de contra-ataque. Mais uma vez, surpreendendo-o com sua movimentação lateral, Theron desceu a lâmina abaixo do escudo, lacerando a coxa de Avaro, que vacilou imediatamente na posição das pernas. A turba voltou a gritar, regozijando cada gota fio de vida que escorria pelos ferimentos do soldado.
“Este porco é mais rápido do que eu imaginava”, pensou Avaro. Cego para todos que o cercavam, via apenas Theron destoando em meio a borrões. Seu sangue não estava suficientemente quente para mantê-lo alheio a dor dos cortes, mas seu corpo ainda tinha forças para mantê-lo de pé. Desistiu da posição de contra-ataque, e encurtou a distância avançando sua lança contra o pirata, que parecia usar a instabilidade da embarcação a seu favor no combate. Theron acompanhava o balançar do navio com seus movimentos, saindo da direção das estocadas e utilizando sua lâmina para resvalar ataques potencialmente eficazes. Avaro sentiu o gosto salgado do suor ao abrir a boca para respirar, após inúmeras tentativas de ataque; Seu escudo parecia pesar mais de 100kg. Jogou-o no chão, agarrou a lança com as duas mãos e, novamente, avançou. A ponta de aço maciço perfurou o ar, após Theron jogar o corpo por trás do mastro. Avaro tentou atingi-lo na lateral, mas tivera o ataque aparado pelo próprio mastro, estrategicamente utilizado pelo pirata como uma proteção. Desprotegido por tempo o suficiente, sentiu a lâmina fria tocar-lhe a carne outra vez.
A espada perfurou a região da costela esquerda do soldado e então fora removida com um esguicho de sangue. Avaro se ajoelhou, apoiando a haste da lança no chão. Com as veias do bíceps saltando, conseguia evitar desabar de bruços a mercê da morte, mas não tinha mais força para se colocar de pé; “Não morrerei de joelhos”, pensou. Arrancou o elmo e deixou que o vento soprasse em sua cabeça abafada e penosa. Theron deu as costas para o que restara de seu oponente e abriu os braços, arrancando gritos frenéticos da tripulação. Após o intenso rigor que elevou seu ego, voltou à atenção para Avaro; tão patético que poderia amolecer qualquer coração, mas não o retalhado, corrompido e frio coração do Mestre de Guerra, Theron de Sergovia. Olhando para o chão, Avaro viu a grande sombra se projetar e pôde perceber quando o pirata gordo ergueu sua lâmina para abatê-lo.
-Não morrerei... de... joelhos! _Sussurrando com o sangue escorrendo por entre os dentes, Avaro atravessou a barriga flácida do pirata com sua lança, em um bote tão repentino e mortal quanto o de uma serpente. A lança brotou das costas nuas de Theron como um caule sangrento. Com ambas as mãos fixando sua espada no ar, ele permaneceu um tempo imóvel, com os olhos perdidos no infinito. Avaro largou sua lança e apoiou as palmas no assoalho de madeira, ainda evitando tombar o corpo. Já Theron, após um breve momento de inércia, apenas digerindo sua morte, finalmente desabou como uma fera abatida sobre o seu próprio sangue. A turba se calou definitivamente; por um célere momento, apenas as leves ondas que se chocavam contra o casco da embarcação foram ouvidas.
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