sábado, 31 de maio de 2014

"Fria como a neve"

Cena que aconteceu em minha antiga  mesa de D&D 3.5 - Forgotten Realms). Confiram abaixo a narrativa...



Os cavalos caminhavam a passos lentos em meio a grande planície. Já haviam se passado três horas desde que deixaram Monte Livre (vilarejo) e ganharam a estrada a leste.Uma fina camada de neve tomava toda a extensão até onde os olhos podiam enxergar, e os muitos pinheiros que eram vistos preenchendo a estrada já estavam com seus topos esbranquiçados. Um forte vento soprava a favor da passada, conduzindo os sutis cristais de neve que despencavam do céu planando com leveza. A aliança do escudo contava com a presença de Miriel, que se mostrara uma fiel aliada ao longo dos últimos dias, Ivain (o mercante corrupto que fora obrigado a financiar a viagem em troca de sua liberdade) e Brak (mercenário pago por Ivain, conhecia aquelas terras e atuava como guia). Um total de 9 membros (contando com a aliança do escudo) inteirava aquela comitiva, que tinha como destino o covil de Kaland-Amah,além da floresta das aranhas, poucos dias a leste, seguindo aquela estrada vazia.

O inverno já havia chegado há pouco mais de uma semana segundo o calendário de Haptos, mas a neve só havia começado a cair há quatro dias atrás. Todos se agarravam como podiam em seus mantos, mantendo o controle sobre as rédeas de suas respectivas montarias. Mallagar e Balthar dividiam um belo cavalo negro de patas brancas, e este fora amarrado a outro malhado, que servia para transportar a carga (suprimentos e mantimentos que seriam utilizados durante os dias vindouros). Desde que estavam em Monte Livre, Miriel resmungava de uma presença, algo que não pudera ser ouvido ou visto, apenas sentido. A mulher acreditava que estavam sendo seguidos por algo que se ocultava na vasta na imensidão branca, tomada por pinheiros, e isso alertou cada membro da comitiva, que seguia atento, fitando os olhos contra o forte vento do inverno. As suspeitas de Miriel foram confirmadas quando algo avistado por Angus chamou a atenção, fazendo com que a caminhada fosse interrompida...

Pontos pretos na grande imensidão branca de neve e céu carregado foram vistos a norte, se aproximando da estrada que seguia a leste. Estes ganharam forma conforme se aproximavam. Homens trajando vestes de frio, com cicatrizes, traços calejados, barbas fartas, sobrancelhas encorpadas e olhares ameaçadores... Caminhando enquanto os vastos cabelos esvoaçavam. Os andarilhos cessaram os passos assim que chegaram a trilha, poucos metros atrás do grupo, e permaneceram lá encarando a todos que se mantiveram calados. Angus imediatamente os identificou como nortenhos, possivelmente bárbaros de alguma das aldeias das montanhas gélidas. Uma comunicação tentou ser estabelecida pelo paladino Brandalford que tomava a frente do grupo, mas os robustos homens do norte apenas observavam. Sem sucesso, resolveram tentar ignorar a presença dos andarilhos e continuar rumando pela trilha, mas algo novamente os impediu: Descendo a trilha a leste, vindo à direção do grupo, alguém conduzia um cavalo em alta velocidade. As rédeas foram puxadas e o cavalo ficou sobre as duas patas traseiras brevemente, até que a condutora se revelasse Astrid.

Astrid, outrora companheira de Angus, vivia no extremo norte, além das montanhas gélidas em uma aldeia conhecida como ‘Neve Morta’. Uma bela mulher de pela branca como a neve do norte, e cabelos vermelhos como o crepúsculo incandescente. A bela aparência ofuscava uma combatente exemplar, filha única de Galdor (líder dos lobos cinzentos – clã nortenho, ligado ao totem do lobo - Uthgard). Esta abandonou todo afeto que tinha pelo grandalhão, engajando-se numa frenética busca por sua cabeça. Angus tinha convicção desse acaso, mas desconhecia motivo de tal caçada, ansiando em nunca mais encontrá-la novamente... Mas, para frustração do mesmo, Astrid já o observava há dias com seu contingente mercenário, esperando a oportunidade de fincar usa cabeça em uma estaca. Dessa vez, Angus não deixou que Brandalford falasse, tomando a frente e tentando quebrar o silêncio, mas nada conseguiu arrancar, senão ameaças. Azrael interviu dizendo que se tentassem algo contra seu companheiro, eles não ficariam parados apenas observando, e isso fez com que Astrid desembainhasse sua espada.
_Então, vamos ver qual lado derrama mais sangue. – Disse a bela mulher, que já estava fora de seu cavalo, apontando lentamente a lâmina para o rosto de cada membro da comitiva.
Os mercenários nortenhos, que estavam atrás do grupo, sacaram suas armas por trás dos mantos e avançaram contra todos. Miriel e Ivain, inexperientes em combate, se desvencilharam como puderam, para sair da trilha e escapar do ímpeto ardente dos andarilhos. Astrid investiu contra Angus, que instintivamente sacou sua espada bastarda, se defendendo dos golpes. Apenas o tilintar das lâminas e os gritos de fúria ecoavam na vasta planície que, por pouco, não fora palco de um grande massacre. Rodgar se viu cercado por dois, que o castigaram com repetidos golpes. Brandalford teve dificuldades para manter seu cavalo sobre controle enquanto combatia com um, mas fora surpreendido por outro que, covardemente, o atacava por trás. Preocupado, Azrael usou de magias ofensivas poderosas contra um dos algozes de Brandalford. Balthar e Mallagar eram impedidos de chegar aos seus companheiros. Cercados por mercenários, nada puderam fazer, senão se defender. Com ajuda de Brandalford, Azrael conseguira tombar um dos mercenários, e ainda teve tempo de salvar Rodgar... Este estava desacordado após tantos golpes, e prestes a receber um golpe de misericórdia do machado de um dos nortenhos, que certamente afundaria seu tórax. O mago usou de um poderoso e reluzente raio, expelido das pontas de seus dedos para arremessar o bárbaro ao chão. Angus, enquanto combatia, gritava frequentemente , pedindo que Astrid parasse, mas a combatente investia com os olhos em chamas. De fato, Angus conseguira desferir alguns golpes contra a jovem, mas esta fora mais efetiva. Com um estratégico corte nas coxas do grandalhão, Astrid tirou sua base, colocando-o de joelhos ao chão e, em seguida, desferiu uma plástica joelhada em seu queixo, deixando-o caído. Enquanto isso, mas sangue era derramado... Brandalford já estava ao chão, rastejando na neve para se proteger do combate. Azrael, esgotado, não tinha mais como se defender, e estava à mercê da lâmina adversária. Rodgar, que sofrera um ferimento grave no ventre responsável por resvalar sua armadura, tingia a neve branca com seu sangue. Mallagar e Balthar também sangravam, mas conseguiam se manter de pé, lutando contra o próprio corpo para poderem continuar combatendo. De bruços, Angus fora golpeado com repetidos chutes nas costelas por parte de Astrid que continuava a cuspir suas ameaças, vendo seu antigo companheiro gemer de dor. Cansada de brincar, ela finalmente virou o corpo de Angus no chão, e ergueu sua espada com ambas as mãos, preparando o abate final.Angus não ouvia ou via mais nada, apenas borrões e ecos dos gritos de seus amigos. Lembrou brevemente da vida no norte, e de como pôde passar por tudo que passou para terminar ali, morto por uma antiga aliada, e secreto amor (sim, secreto amor!). A lâmina de Astrid desceu com velocidade, mas fora interrompida a centímetros do pescoço de Angus. Lágrimas rolaram dos olhos amarronzados da jovem. Ela queria, tinha sérios motivos, mas não conseguiria tirar a vida de Angus, não sem, ao menos, deixá-lo saber o porque. Com um grito ela ordenou que todo o seu contingente parasse. Os ataques foram interrompidos, e todos os nortenhos voltaram os olhos para Astrid, que continuava a dar ordens, mandando que deixassem eles partirem. Todos que ainda conseguiam se manter de pé, na comitiva, se prontificaram a auxiliar Angus e Rodgar que estavam beirando a inconsciência. Astrid ordenou que fossem embora, antes que ela mudasse de ideia. Com dificuldade, os feridos foram postos em seus cavalos e, pouco tempo depois, os animais começaram a conduzir a comitiva pela trilha novamente a passos lentos, deixando Astrid e seus mercenários para trás (apenas dois tombaram em combate).
Mantido com dificuldade sobre o cavalo, Angus ainda olhou para trás e observou sua amada ficando cada vez menor. Muito ferido e esgotado, antes que finalmente se entregasse aos seus sonhos mais profundos, ouviu novamente a voz de Astrid ecoar em sua mente:
_Espero que descubra logo a sua essência, pois da próxima vez em que nos vermos, eu não lhe deixarei partir apenas com um aviso.

Ele sabia, naquele momento, que teria de descobrir sozinho o motivo daquilo tudo... Isso o corroía dolorosamente mais do que qualquer golpe recebido em combate. Os olhos de Angus se fecharam, e a escuridão foi o que sobrou para o membro derrotado da Aliança do Escudo.



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