quinta-feira, 5 de junho de 2014

ATO 1- FORJADOS PELA BATALHA

Relatos de uma campanha no universo do Conan, usando o sistema Conan RPG.

Dia 11 de Válica (Mês 07 ; Abutre ; Equinócio de Outono) de 1163

ATO 1- FORJADOS PELA BATALHA

Temendo que seu influente pai colocasse guardas nas estradas a fim de sua captura, Balthus não teve outra escolha, senão contornar as perigosa fronteiras oeste.  Os pequenos distritos da fronteira oeste são as únicas coisas que separam a Aquilônia da região selvagem e feroz dos Pictos. Um lugar degradado, sujo, humilde e perigoso... Perigoso demais até mesmo para os supostos guardas que estavam em sua cola transitarem. Balthus sabia que aquela região, apesar de levemente populosa por homens tão civilizados quanto ele, poderia se revelar mais perigosa do que viajar pelas estradas ao sul de Velucia, conhecidas por seu pai. No entanto, ele sabia como se movimentar naquelas terras, sabia onde estaria “seguro” e onde sua vida correria risco constante, Além do mais, aquele homem que caminhava ao seu lado, cujo nome era Akuji, parecia usar bem a lança que carregava.


Ambos caminhavam por mais de duas semanas, cortando Tauran e os Pântanos Bossonianos por extensões inteiramente naturais. A parada foi obrigatória ao chegarem à Fronteira Oeste, as famosas províncias que separavam a civilizada Aquilônia dos selvagens Pictos. Os joelhos explodiam de dor e os pés latejavam dentro das botas. Mais precisamente na pequena província de Thandara, em um vilarejo conhecido como N’yaga.  Um pequeno vilarejo, de não mais do que 300 habitantes e um poderio militar medíocre de 15 soldados. Estenderam-se demais lá, passaram cinco dias no casebre de uma gentil anciã, chamada Adelia. A humilde senhora os acolheu gentilmente, preparando uma mistura em ervas numa bacia d’água, onde descansaram os pés por todos esses dias até que estivessem prontos para retomar a viagem rumo a uma terra exótica chamada Zíngara. O objetivo de chegar em tais terras era, unicamente, fugir do alcance de seu pai (Attelius). A partir de lá, o destino seria incerto.

  Adélia

Nesse tempo em que passaram em N’yaga, Adelia falou bastante com ambos sobre a vida na fronteira. Ela tinha um filho, que servia no Forte Thandara junto a outros soldados, esse sentia muito sozinha. Na noite específica do dia 11 do 07, a última que passariam em N’yaga, os três conversavam enquanto tomavam chá. Adelia revelou os ter ajudado pela carência de companhia, a senhora temia morrer sozinha ali, na depressão daquele vilarejo tomado pela monotonia e pelo medo. Medo de que, em uma suposta noite, os malditos Pictos emergissem de sua mata, a menos de 200 metros a oeste, pilhando e escalpelando qualquer resquício de vida de N’yaga (o clã Pantera faz ataques frequentes a província de Thandara). O filho de Adelia mandava algumas moedas diretamente do Forte, há algumas milhas dali, mas a senhora guardava as moedas para quando, um dia, conseguir chegar a Kwanyara (uma cidade da província, levianamente pobre, mas com muito mais possibilidades do que o vilarejo de N’yaga).


Vilarejo de N’yaga (Província de Thandara; Fronteira Oeste; Aquilonia)

Com objetivo de mostrar gratidão, Balthus e Akuji aceitaram guiar Adelia até Kwanyara no dia seguinte (um dia de viagem ao norte), para que ela pudesse obter o que precisava nos mercados e, então, retornar para seu casebre. Desviariam o curso de sua viagem, e certamente perderiam alguns dias, mas era o certo a se fazer, assim pensava Balthus.


ATO 2- O CONSELHO

Em um cômodo específico no primeiro andar da mansão do Conde Valenso (em Attasia; Norte da Zíngara), algumas figuras icônicas do Condado de Attasia se reuniam no fim daquela tarde. Iluminado por tochas, o grande salão de carvalho ostentava uma grande mesa redonda. No entanto, nem todas as cadeiras estavam ocupadas, apenas metade delas (a confidencialidade da reunião exigiu que a penas os homens de mais confiança do Conde Valenso se reunissem ali naquele dia). Na mesa estavam seu filho Arcadio, Antillio (o emissário do magistrado), os dois anciãos (Temístio; um sábio e auxiliador do Conde e Bartolo; sacerdote de Mitra) e o comandante da guarda local, Galbro. O Shemita Zafar (aliado pessoal de Arcadio) não tinha permissão para sentar-se ao conselho, mas ficava de pé ao lado de seu companheiro. Este sempre o acompanhava, por mais que não tivesse permissão para participar efetivamente de tudo. Antes de começarem, Antillio revelou que Valenso estava bem, mas muito ocupado com tarefas reais. De fato, o ancião mal o viu em todos esses dias que passou na capital.

   
    Bartolo (Sacerdote)    Galbro (Comandante)      Temístio (Filósofo)

Nota: Temístio costumava a ser o único ancião e conselheiro da mansão, mas com o retorno do, até então exilado, Antillio, as coisas mudaram. Antillio atua no conselho da cidade de Jerida há 10 anos (assumiu o posto pouco tempo após retornar do exílio), ele é um emissário do magistrado. Há alguns anos, devido ao início de uma crise financeira em Attasia, Antillio fora solicitado por Oliviero para auxiliar Valenso, e seu conhecimento estratégico de finanças tirou Attasia da crise. Antillio continuou com seu posto em Jerida, mas viaja para Attasia sempre que problemas recorrentes envolvendo finanças ocorrem no Condado. Dessa vez não foi diferente, e Antillio mais uma vez chegou ao Condado de Attasia, deixando Jerida nas mãos do resto do conselho.



Exato, o Conde Valenso já estava na capital (Kordava) há mais de um mês. Ele recebera uma convocação através de um mensageiro, partiu as pressas e, desde então, não deu mais notícias. Galbro pensou em mandar soldados atrás de resposta, mas achou melhor não fazer nada, pois sempre temeu agir sem as ordens de Valenso. O fato é que, esse mês o tesoureiro não havia chegado ao condado. Tesoureiro é o homem responsável por levar a muitas das cidades e vilas, um montante em moedas e suprimentos diretamente do rei mensalmente. Esse montante é parte da caixa pronta acumulada no país pelos cobradores de impostos, e serve para que os lordes usem como pagamento para os homens que trabalham em mansões feudais. Em termos mais simples, o tesoureiro leva parte dos tributos para muitas das cidades e vilas que não conseguem se manter sozinhos. Attasia necessita dessa quantia mensal, pois é da mesma que os salários dos homens livres saem. Não só isso, como o salário dos militares e toda a estrutura para manter trabalhadores senhoriais também depende. Os trabalhadores que aram os campos senhoriais e trabalham de forma geral nos cultivos e terras do Conde Valenso, são pagos com moradia e comida (mantê-los estruturados depende do retorno dos tributos). Vale sempre lembrar que o valor dessa quantia depende dos impostos cobrados, por isso eles são sempre cobrados com rigorosidade.


Salão do Conselho

Magistrado é o corpo que organiza essas finanças, o Duque Florencio (líder do magistrado), possui a posição mais prestigiosa do país, abaixo apenas do Rei. Ele designa os tesoureiros incumbidos de enviar os tributos para cada localidade, e define a porcentagem de valor ao lado do Rei, dependendo da caixa pronta (valor bruto dos impostos cobrados).
A primeira pauta e desafio do conselho eram: “Como pagar os militares, homens livres e trabalhadores dos campos senhoriais?”

Esse ponto foi astutamente resolvido por Arcadio que, após muito debater com seus companheiros, decidiu que tiraria parte das finanças pessoais de seu pai (da mansão) apenas para pagar os militares. Ficou claro ali que não poderiam se desprover do poderio militar, principalmente se o povo local resolvesse reclamar o que lhes é por direito. Temístio anotou o que foi decidido, mas a pauta continuou a ser explorada. Arcadio, com auxílio de Bartolo, chegou a uma forma de conter o povo. Bartolo acrescentou que a fé dos Attasianos em Mitra poderia ajudar a suprir qualquer revolta e, devido a isso, Arcadio sugeriu que uma peça teatral ocorresse no Anfiteatro. Uma peça que ressaltasse não só a fé em Mitra, como a vitória do Norte da Zíngara contra os Attasianos há 10 anos atrás. A clássica estratégia do “pão e circo” fora aceita pelo conselho, e anotada por Temístio.


Antillio (Regente do Conselho de Jerida; Auxilia o Conde Valenso em tempos de crise no Condado de Attasia)

A segunda pauta da reunião tratava-se dos Pictos. Galbro tomou a palavra, dizendo que o clã da Pantera atacou uma vez há meses, mas que ele temia frequentemente um novo ataque. Galbro pediu permissão para colocar homens patrulhando as Montanhas de Hispan (Attasia se localiza aos pés dessa montanha). O pedido foi concedido pelo conselho, e anotado por Temístio. A ultima pauta do conselho, rapidamente resolvida, consistia em um jeito de tentar informar Valenso, na capital, a respeito das decisões tomadas. Arcadio se prontificou em ir até lá, mas fora aconselhado por Temístio a ficar, afinal, era seu dever cuidar do Condado na ausência de seu pai. Tendo isso em vista, Arcadio ficou de solicitar dois retentores para ir a capital, arrumar um jeito de contatar Devante Valenso.

O Conselho fora encerrado, e cada um deles partiu para seus afazeres. Galbro selecionou ainda naquela noite os soldados para patrulharem as montanhas, assim como Arcadio selecionou os dois retentores que iriam a capital. Antillio se prontificou em ajudar Temístio a remover parte das finanças da mansão para o salário dos militares. E Bartolo, obviamente, começou a agitar os preparativos para peça, que ocorreria no anfiteatro em um mês.


ATO 3- PACTO DEMONÍACO

A meio dia de viagem de Attasia, em um vilarejo chamado Minoria, uma bela mulher se escondia. O rio negro desemboca em um grande lago de água doce nas proximidades do vilarejo, que servia para irrigar os campos que, uma vez, enfeitavam os arredores de Minoria. O lorde local se chama Baal, e é aliado do Conde Valenso. O vilarejo não amurado ostentava algumas fazendas ao seu redor, muitas das quais foram abandonadas, devido as destruições dos campos ocorridas na guerra contra Poitain. Em uma dessas fazendas abandonadas há anos, estava a bela jovem. Cerca de 1km do conjunto de casebres e construções humildes que formavam Minoria. A mercê da escuridão, em um celeiro abandonado, a jovem se resguarda esperando a noite se aproximar. Em volta dela, apenas um chão úmido de terra e feno velho. O lugar fede a esterco e é abafado, mas é relativamente isolado do resto do vilarejo, totalmente apropriado para o que vem a seguir.

O ritual é iniciado, as luzes das velas são as únicas fontes de iluminação, e os incensos perfumados aliviam levemente o fedor do esterco envelhecido. Um forte vento sopra pelos buracos e escoriações na madeira podre celeiro, apagando as velas.  No entanto, a pálida luz do fim da tarde que entra pelos mesmos buracos que permitiram a passagem do forte vento, iluminava parcialmente o local... Estranhamente, tudo ao redor da jovem cai na escuridão. Apenas uma vela permanece acesa, a do centro. Ela sente um frio na espinha que denuncia uma presença dentro daquele celeiro, ela não a vê, mas sente que está lá, escondido na escuridão. Sua respiração ofegante denuncia ainda mais sua presença. O ser finalmente se manifesta com uma voz rouca e assexuada, diferente de qualquer outra voz já escutada pela jovem. A voz indescritível diz: “Quem me traz de tão longe?”.
A jovem finalmente se anuncia como Elen Daros, e diz ter encontrado manuscritos que a levariam ao encontro de tal criatura por meio de um ritual.

Uma breve conversa se inicia entre Elen, e a criatura envolta em sombras. Na conversa, a criatura oferece a chance da jovem fazer pedidos. Elen, convicta de suas palavras, exige poder para arquitetar uma tortuosa vingança contra os algozes de seu passado.

“Você tem atributos que muitas mulheres dariam tudo para ter, a juventude e a beleza. Deve ser muito tola ou muito convicta para ter me despertado de meu leito por vingança. De qualquer forma, agora não tem mais volta, pois não vim de tão longe para nada. No entanto, farei por você algo a mais... Lhe concederei mais do que poderes levianos, mas o dom de manusear as feitiçarias ocultas. Em troca disso, eu quero você... Sua carne e sua alma, ambas serão minhas a partir de agora.  Não estarei mais tão longe, estarei sempre por perto, te consumindo aos poucos. Sei que não parará aqui, o poder seduz. Você me convocará muitas das vezes, e eu sempre estarei aqui para lhe conceder o que me for pedido, mas é claro, sempre pedindo algo em troca. Fique tranquila, pois eu só aparecerei quando for solicitado, mas não pretendo ficar muito tempo sem ser solicitado. Saiba que se eu suspeitar por algum segundo que está tentando fugir de mim, eu te arrastarei para as profundezas do inferno junto com a sua vingança.  A princípio eu não quero nada seu, além de seu sangue. Use o punhal do centro do círculo para se cortar, e derrame parte de seu sangue na bacia, isso selará nosso acordo de uma vez.”

Convicta, porém assustada, Elen vai ao centro do círculo desenhado no chão com pó de giz e, lá dentro, ela sente um calor intenso, como se o ambiente estivesse mudado. O corte é feito e o sangue esvai, gotejando na bacia. A criatura ordena que Elen saia do círculo, Elen sai, e as sombras consomem o sangue que fora deixado na bacia, secando-a completamente. Após isso, a marca de uma pequena lua crescente queima no ventre de Elen, perpetuando em seu corpo à famosa ‘marca da feitiçaria’. Uma marca que representa o acordo feito com uma entidade por poder. Antes da entidade desconhecida desaparecer, suas ultimas palavras são:

“O poder oculto se manifestará de uma forma que você não encontrará dificuldades em manuseá-lo. Mas, até que isso aconteça, eu aconselho que você se mantenha reclusa. Aprofunde-se nos estudos ocultos, pois requer grande conhecimento para controlar os poderes da feitiçaria. Saberás manuseá-lo, mas precisa entendê-lo.” As velas estranhamente se acendem novamente, e a criatura sombria desaparece, sem deixar qualquer vestígio. Elen se senta assustada com o que fez, e tem consciência de que isso não terá mais volta. Ela precisa de um tempo para se manter distante, e um tempo para se entregar aos estudos que foram solicitados. Mas, antes que saia do celeiro, a voz da estranha criatura ecoa em sua mente mais uma vez:

“Dá próxima vez que nos encontrarmos, me chame de Mestre...”

Naquele momento, Elen tem certeza de que não estará sozinha nunca mais.



(Quase um mês depois...)
Dia 9 de Krinisa (Mês 08 ; Mês do Raio) de 1163

ATO 4 – AS MONTANHAS DE HISPAN

Balthus e Akuji caminham pelo vasto terreno irregular. O lugar é um aglomerado de montes verdes, preenchido por árvores densas em quase toda sua extensão. A folhagem amarelada de outono começa a despencar das copas de muitas árvores, e é impossível não notar a vasta floresta de vegetação densa, que se inicia gradualmente a menos de 200m (oeste). A brisa é agradável, mas o silêncio da mata a oeste é perturbador. Ambos tentam focar no sul, onde a silhueta das Montanhas de Hispan já podem ser avistadas (segundo Adelia, elas dividem as fronteiras oestes e a região selvagem dos pictos de uma terra chamada Zíngara).

  Monstanhas de Hispan

Por mais que não estejam nas selvas que ficaram para trás, a irregularidade do terreno somado a quantidade de árvores que preenchem o caminho, torna a passada difícil. Isso sem falar que o medo de uma emboscada é constante. Felizmente não se depararam com os tais Pictos ainda, mas se forem tão ferozes quanto dizem, terão problemas com isso, caso aconteça. O caminho até lá fora perturbado. Apesar de não terem se confrontado com ninguém, o medo os acompanhava diariamente, e a sensação de estar sendo observado era aterradora. Em um fatídico dia, mais ou menos uma semana atrás, tambores foram ouvidos ecoando de dentro da mata a oeste. O som assustador os tirou o sono por dias... No entanto, nada os tirava tanto o sono quanto a fome. Assim como a selva, as caças também ficaram para trás, e neste dia se completam exatos dois dias sem comer. A água é preservada nos cantis, no entanto, sabe-se lá quando ainda terão de andar até encontrarem uma cidade.

Balthus e seu companheiro, após uma breve caminhada, finalmente conseguem perceber a diferença do terreno em que pisam. Aos poucos, a grama castigada vai dando lugar a um caminho terroso. Estão no meio da tarde, quando finalmente sentem apenas pedras e terra batida sob seus pés. O vento sopra com intensidade, e eles não conseguem tirar da cabeça que finalmente estarão seguros do outro lado das colinas, no entanto, pode ser perigoso viajar a noite. Quando finalmente a noite chega, eles estão em meio a um caminho completamente irregular, e nenhuma estrada para existir no meio daquelas rochas. Usam da experiência selvagem de Akuji para se manterem sempre no caminho do sul, até que finalmente a noite dá lugar ao dia, e eles descansam sobre as rochas incômodas daquele trajeto montanhoso.


ATO 5- TONS DE CINZA

Valenso havia retornado da capital há cinco dias, pelo menos, mas, desde então, se manteve recluso em seus aposentos, saindo pouquíssimas vezes e não solicitando visitas. Ele estava claramente estranho e atormentado com a viagem, se esquivando até mesmo das decisões tomadas no conselho. Na noite anterior, Bartolo aconselhou o jovem Arcadio a finalmente encurralar seu pai em seus aposentos para cobrar respostas a respeito de sua viagem ou, pelo menos, informá-lo sobre as decisões tomadas no último conselho.

 As janelas da mansão estão abertas e o sol pálido de outono ilumina os cômodos. Arcadio caminha lentamente pelo corredor de pedra polida, enfeitado com um belo tapete avermelhado. Encara as pinturas de quadros nas paredes enquanto caminha, rumo ao ultimo quarto do corredor do terceiro andar, os aposentos de seu pai. Neste corredor, as janelas estão fechadas, e o lugar está iluminado apenas pelas poucas velas que permaneceram acesas desde a noite anterior.

O quarto ostenta uma vasto tapete estendido, uma mesa colocada de frente para janela, estantes com livros (enfeitadas com estatuetas e porcelanas), uma aconchegante lareira e uma escrivaninha com papéis e livros espalhados. Valenso está sentado na mesa, usando a iluminação da janela para escrever alguma coisa. Ele percebe a presença de Arcadio, e a conversa rapidamente se inicia. Arcadio questiona seu pai a respeito do tributo que não retornou, mas Valenso se esquiva ao dizer que não soube disso,e que sua viagem a capital só diz direito a ele e ao Rei Oliviero. No entanto, ele prossegue, acrescentando que Oliviero é um homem sábio e generoso, se a quantia não veio no mês passado, esse mês ela certamente virá com juros (assim acredita Devante Valenso). Arcadio se tranquiliza e finalmente informa seu pai de todas as decisões tomadas.




Aposentos do Conde Valenso

Valenso elogia Arcadio pela sábia decisão de utilizar as finanças da mansão para manter os militares, e também da estratégia em utilizar o anfiteatro para fortalecer a fé dos Attasianos em Mitra. No entanto, ele pede privacidade ao seu filho. Arcadio deixa os aposentos de seu pai, mas não sem antes perguntar por seu amor proibido, a princesa Chabela. “Chabela está bem, sua beleza apenas se conserva com o tempo...” Respondeu Valenso, friamente. Arcadio caminhava pelo corredor, após sair dos aposentos, estranhando muito o comportamento de seu pai. Devante estava frio demais, algo aconteceu...

  Conde Devante Valenso


ATO 6- A MISTERIOSA FORASTEIRA

Após os estranhos acasos naquele celeiro, Elen se manteve reclusa tal como havia sido instruída. A jovem partiu para o norte, em uma não tão longa caminhada, até chegar à província de Poitain (Aquilonia). Por lá se manteve por um tempo, mais precisamente na capital, Culário, gastando suas últimas e preciosas moedas com estalagens, suprimentos e acesso a bibliotecas. O acesso às bibliotecas da cidade garantia um breve, porém necessário, conhecimento oculto a Elen. Três semanas foram necessárias para que ela deixasse as terras Poitainianas, saindo de seu recluso, e partindo rumo ao Condado de Attasia, no Norte da Zíngara. Pouco conheceu sobre as ruas e culturas de Poitain, apesar da cavalaria local ser um destaque ostentado em cada rua. Ela focou-se apenas nos estudos e em se manter refugiada. Não guardara rancor dos Poitainianos, por mais que fosse numa guerra contra eles que perdeu seu pai. Seu rancor era de outra pessoa...



Dois guardas se vestem de forma similar nos portões principais de Attasia (Gibão de couro, lanças, saiotes, sandálias, lanças, elmos de aço e escudos redondos de madeira). Um deles toma a frente e pergunta onde a jovem pretende ir (os guardas são autorizados a interrogar forasteiros que chegam ao condado fora de temporadas festivas). Após obter as respostas, que precisa, Elen é autorizada a prosseguir, saindo na primeira ala do condado: A ala dos portões, onde os mercados e bazares se colocam estrategicamente para abordar viajantes. Esta pequena ala abriga pequenas estalagens, tavernas, mercadinhos de rua, mercados, bazares, armazéns e dois estábulos. Os portões conectam quase diretamente a uma feira de frutas movimentada (Elen anda se esquivando).  Guardas são vistos transitando por entre os cidadãos, mas o que chama atenção de Elen em meio a aquela aglomeração de pessoas suadas, é o único homem armado, que não possui uniforme da guarda. Ele tem uma aparência estrangeira, e compra ferraduras em um dos estábulos da ala.


Barracas e Mercados na primeira ala de Attasia (a construção atrás, é o Anfiteatro).

Elen vai até ele, este é Zafar (aliado de Arcadio). Perplexo pela beleza de jovem, o Shemita decide ajudá-la. Elen procura oportunidades para engajar na vida artística em Attasia, a jovem é uma excepcional dançarina. Zafar a leva até Arcadio, Ambos adentram a mansão, passam pelos cultivos do Conde Valenso (que estão sendo arados pelos trabalhadores senhoriais) e chegam a Arcadio, que saía pela porta após a estranha conversa com seu pai. Arcadio e Elen fizeram um agradável passeio pela terceira e segunda ala do condado, que ostenta edifícios mais elaborados e até o templo de Mitra. Arcadio se impressionara com o poder de persuasão e desenvoltura que Elen possuía, não só com as palavras, mas também com sua expressão corporal. A caminhada foi longa e produtiva, ela rendeu muitos elogios a Elen por parte de Arcadio (encabulando Zafar, que estava sempre ao lado de seu aliado). Juntos, foram até o anfiteatro observar os ensaios para e peça que ocorreria em dois dias. Arcadio convenceu Bartolo a permitir que Elen participasse do espetáculo, não como atriz, mas como uma apresentação de abertura com sua dança.
“Não poderei pagar por seus serviços, minha cara. Mas saiba que, se seu desempenho for bom, isso lhe renderá bons frutos em Attasia, pois a estalagem Elmo de Bronze costuma a pagar bem suas dançarinas contratadas.” Disse Bartolo.

  Condado de Attasia

...

Após a breve caminhada, finalmente retornaram aos campos senhorias, e encontraram Galbro, que reconheceu a jovem. Elen era filha de um soldado, um bravo lanceiro que morreu na guerra contra os Poitainianos. Após receber essa valiosa informação, Arcadio resolveu pedir que seu pai locasse a jovem. Elen aguardou nos campos junto a Zafar, enquanto Arcadio tinha mais uma conversa com seu pai.  Devante se mostrou intolerante, ofendendo parcialmente os órfãos da guerra, mas se retratou em seguida dizendo que concederia essa oportunidade a jovem. No entanto, ele só permitira que Elen dormisse em um dos casebres, destinado aos trabalhadores, nos fundos da mansão. O Conde se recusou a ceder um aposento na mansão para a estranha, e ainda completou dizendo que, nessa noite em questão, ela teria que procurar uma estalagem, enquanto a locação era preparada. A noite já se aproximava, quando Arcadio desce da mansão para dar a boa notícia a jovem que foi sua companhia pelo dia inteiro.

Elen se felicitou e seguiu sozinha para a estalagem das sete velas na primeira ala, enquanto Arcadio a observava se afastando dos portões, com um pensamento pedante e estratégico: “Mal chegou ao condado, e já conseguiu passar um dia inteiro com uma das figuras mais importantes daqui (falava se referindo ao mesmo). Essa mulher tem muito potencial para desperdiçar dançando em tavernas”. Zafar apenas observava o olhar de Arcádio, mas imaginava que seu companheiro tinha planos para envolver Elen na política do Condado.


ATO 7- UM PASSADO DESCONHECIDO

Na mansão, as únicas vozes que ecoavam aos sussurros pelo salão principal era a de Temístio e Arcadio. O jovem explicou para seu tutor, sobre o interesse de ingressar Elen, como uma espiã. Temístio estranhou o pedido e, a princípio não concordou (talvez por não conhecer a jovem). No entanto, Arcadio persistiu no assunto, dizendo que ela possuía aptidões que poderiam fazer um homem falar qualquer coisa que ela quisesse ouvir, e Arcadio não falava de aptidões sexuais. Ainda pensativo sobre o assunto, Temístio mal percebeu a mudança de assunto por parte de Arcadio. O jovem questionava sobre Antillio. O achava um homem estranho, e pediu que seu tutor pudesse proferir palavras sobre o misterioso homem...

“São as atitudes que tomamos no presente, que moldam nosso futuro. Logo, o que somos hoje, é o reflexo de escolhas que fizemos ontem. Eu não conheço o passado de Antillio, portanto, não saberia dizer algo sobre esse homem. Ele é um mistério para mim, e para todo o resto do conselho.”  -Disse Temístio

Após receber as sábias palavras de Temístio, Arcadio finalmente se recolheu aos seus aposentos.

...

Na estalagem das sete velas, Elen fazia amizade com a filha do estalajadeiro. Uma jovem menina, de 16 anos, chamada Zelia. A conversa entre as duas durou um tempo considerável, e nela, Elen perguntou sobre os burburinhos dos Attasianos a respeito do atraso/falta de pagamento. Zelia respondeu que alguns reclamavam, mas não todos. Elen aconselhou Zelia a sempre lutar para cobrar de seus líderes o que deveria ser dela por direito. A jovem Zelia concebeu o conselho com um sorriso.


Dia 10 de Krinisa (Mês 08 ; Mês do Raio) de 1163

ATO 9- O INIMIGO INVISÍVEL

Balthus e Akuji caminhavam sorrateiramente por entre as estradas naturais e irregulares que cortavam as Montanhas de Hispan. Estavam sem comer há três dias, a carne salgada se esgotou nos primeiros dias de viagem, e os animais silvestres não foram mais vistos desde que deixaram as selvas Pictas para trás. Tomando a frente, um homem seguia encurvado, tateando a terra batida na busca de rastros (um bárbaro, cuja pele negra denunciava sua ascendência sulista). Protegendo a retaguarda, Balthus, um soldado Aquiloniano, observava por de trás das muitas rochas que preenchiam o caminho, na procura de qualquer movimento suspeito. Seu estômago roncava como os tambores Pictos que ecoavam nas selvas ao norte.

  Caminho por entre as montanhas

Akuji, cuja pele de ébano reluzia com o sol alaranjado daquela manhã de outono, prosseguia com seu rastreamento, utilizando métodos inusitados, como o próprio faro. Balthus estava faminto demais para se preocupar com o quão estranho aquilo para suas convicções civilizadas. Em sua mente, só imperava o medo constante de cair morto enquanto cruzavam aquelas terras rochosas. Estranho, porém eficaz, os métodos de rastreamento do sulista os levaram até uma ossada pequena (possivelmente de um filhote de lobo). Por ali se mantiveram, vasculhando o local, até que foram surpreendidos... O predador estava prestes a se tornar a presa.

Lobos das montanhas surgiram de trás das elevações rochosas, cercando os viajantes. A pelagem era cinza e bem escura, beirando o negro. Os olhos em fúria brilhavam como pira ao refletir a luz do sol. Estavam magros, as costelas eram percebidas através dos pelos, e o fato de que babavam ao rosnar, contribuíam para não deixar dúvidas... Eles estavam famintos. Nesse momento ficou claro para Akuji que a ossada encontrada era, possivelmente, de seus filhotes. Os predadores se aproximavam, comprimindo Sulista e o Aquiloniano, que se encostavam a uma grande rocha para proteger as costas. Tão famintos quanto os viajantes, os lobos finalmente avançaram. Um combate feroz pela sobrevivência se iniciou! No entanto, o maior inimigo a ser derrotado por ambos os lados, era a fome.

 
Os escuros lobos das montanhas de Hispan

Balthus conseguiu conter e derrubar um dos lobos famintos, Akuji empalou um com sua lança, e alvejou outro ao arremessar sua Azagaia, mas não conseguiu isso sem se ferir no braço. Restavam três lobos contra a dupla, quando os mesmos foram espantados por quatro soldados que patrulhavam as montanhas (homens de Galbro). Os viajantes fora capturados pelos soldados, e seguiram rumo ao condado de Attasia, do outro lado das montanhas.


ATO 10- AMANHECE NO CONDADO

Na estalagem das sete velas, Elen acorda cedo, mas não para tomar o desjejum. A jovem passa pelo estalajadeiro, e segue para ajudar Zelia a picar os legumes da refeição diária (o homem a observa ajudando, e resolve não se meter). A jovem Zelia é uma menina bem humorada e falante. Ela não consegue conter sua boca nem por um minuto. Enquanto Elen a auxilia na cozinha da estalagem, a garota comenta sobre diversos assuntos mundanos, que passam despercebido por Elen, cujo corpo estava lá na cozinha, mas a mente em outro lugar...

Elen teve um misterioso sonho nesse último mês em que passou em Culario (Poitain). Nesse sonho, ela ouvia a voz de um homem a chamando. Uma voz leve, porém imponente. Elen seguia a voz no sonho, mas não chegava a lugar algum. Ao acordar, a jovem estava prestes a descer pela escada da estalagem em que passara a fatídica noite. Pode parecer loucura, mas o corpo de Elen realmente seguiu a voz que a chamava em seus sonhos. Pode não ter passado de um sonho, mas Elen se pega pensando frequentemente nisso.

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