ATO 16- PÃO E CIRCO
Tensão definia o clima
do anfiteatro. O lugar estava lotado, e todos estavam calados apenas
aguardando. Arcadio, assim como Bartolo e todo elenco da peça estavam atrás das
pilastras que antecediam a área onde ocorreria a apresentação. Arcadio se
concentrava para seu discurso, quando Bartolo anunciou ao jovem que um pequeno
grupo de insatisfeitos se manifestavam do lado de fora do anfiteatro. Os pães
de Adolphus chegaram, e, quando isso foi informado a Arcadio por um guarda, o
filho do Conde finalmente mostrou sua face para todos os presentes, sentados
impacientemente nas arquibancadas.
Anfiteatro de Attasia
Arcadio não tardou em
iniciar seu discurso, anunciando não só os jogos que teriam inicio no mês que
vem, como a redução dos impostos a metade (mesmo sem o consentimento de seu
pai). Não foram todos os satisfeitos,mas a maioria esmagadora do anfiteatro
aplaudiu a decisão tomada por Arcadio ao fim do discurso, o que contrastou com
a leve massa de indignados que amaldiçoavam o nome da família Valenso, além dos
muros do anfiteatro.
Com uma contenção
maior por parte dos guardas, os pacíficos manifestantes se dispersaram, e a
peça ocorreu conforme Bartolo planejou e organizou... A apresentação foi um
sucesso. Apesar de tendenciosa (afinal, o tema da peça fazia uma analogia da fé
dos Attasianos em Mitra com a capacidade de Valenso na vitória contra os
Poitainianos), todos aplaudiram o espetáculo. Do anfiteatro, finalmente, todos foram para suas devidas locações, a fim
de descansar para mais um dia, com exceção de Arcadio.
O filho do Conde foi
interceptado por Balthus que, após passar o dia inteiro descendo os corpos
decapitados das montanhas, resolveu informá-lo sobre o ocorrido. Ambos
conversaram por um bom tempo, tanto a respeito de um reforço na patrulha das
montanhas, quanto a respeito da descontentação de parte dos Attasianos, com
relação ao retorno das moedas. Nessa conversa entre os dois, algumas decisões
foram tomadas: Feno e óleo seriam colocados em pontos estratégicos da montanha
de hispan, para ‘avisar’ aos Attasianos com piras a respeito de supostos
ataques Pictos. A patrulha nas montanhas seria reforçada. Balthus tiraria
alguns dias para permanecer entre os viventes da primeira ala, investigando
supostos suspeitos de organizar um motim contra o Conde.
Após a breve conversa
entre os dois, que se estendeu noite adentro, ambos resolveram retornar para
seus aposentos. Balthus deixou sua arma e armadura no posto, retornando para
estalagem das sete velas, e Arcadio retornou para a mansão, onde finalmente
informaria seu pai das decisões tomadas e executadas. Akuji seguiu com o filho
do Conde, pois ficaria de vigia no terraço da mansão durante o resto da noite.
ATO 17 - DECISÃO VETADA
Já era bem tarde
quando Arcadio retornou para a mansão, e correu rumo aos aposentos de seu pai
(levando uma bandeja para que ambos pudessem degustar algo enquanto
conversavam). Apesar da noite estar escura demais para conversas importantes,
Devante recebeu seu filho, e ambos conversavam a respeito das decisões. Devante
aprovou a decisão de mais eventos no anfiteatro e se felicitou ao saber que a
peça foi aplaudida (também elogiou as ideias de Balthus a respeito das piras
nas montanhas e o reforço nas patrulhas), no entanto, nem tudo foi aceito pelo
conde. Devante Valenso vetou a ideia de cobrar apenas a metade dos impostos,
mesmo após Arcadio já Ter anunciado.
Devante não entrou no
mérito da precoce contratação de Akuji e Balthus, pois assumiu que, realmente,
o condado está desesperado por poderio militar (principalmente depois da morte
dos patrulheiros e o desaparecimento de Galbro; ao que parece, a capital não
está enviando soldados também). Arcadio ressentiu a decisão, pois este anuncio
rendeu bons aplausos no anfiteatro, mas nada podia fazer quanto a decisão de
seu pai. No dia seguinte, dia dos impostos serem cobrados, os Attasianos teriam
uma surpresa nada agradável...
Dia 12 de Krinisa (Mês 08 ; Mês do Raio) de
1163
ATO 18 - O LEVANTE
DOS ATTASIANOS
Ao amanhecer, Balthus
desceu para o desjejum na estalagem, e encontrou Elen (seu, até então,
desafeto; Balthus não havia se dado muito bem com a jovem em outros encontros).
Balthus sondou as mesas para tentar ouvir as conversas (na tentativa de colher
informações sobre possíveis levantes), enquanto Elen (entrona como sempre)
seguiu para a cozinha da estalagem, estranhando que a filha do dono atuava
servindo as mesas. O estalajadeiro chorava na cozinha, e afirmou a jovem que o
motivo de seus prantos era a falência inevitável: “Nós fomos enganados pelo
Conde e seu filho... Os guardas exigiram a cobrança integral dos tributos, e eu
tive que entregar todos os meus lucros.”.
Tomada por uma
indignação notória, Elen deixou a cozinha e cuspiu essas verdades na cara de
Balthus, que pegou a jovem pelo braço, e seguiu pela primeira ala na busca de
um soldado que pudesse levá-los até o encontro de Arcadio. Balthus queria
explicações. O casal disparou em direção aos bazares na busca de um guarda, mas
tudo que conseguiram foi o caos. Homens e mulheres corriam em direções
diferentes ,dificultando a passada. Balthus não conseguia enxergar nada por
entre a multidão, que corria no sentido contrário a ele. Muitas vezes empurrado
para trás, o Aquiloniano tentava investir na base da força, tirando as pessoas
assustadas, que corriam de forma desgovernada. Elen foi empurrada e chegou a se
machucar, mas finalmente chegaram a um soldado, e perguntaram o que acontecia.
...
Akuji deixava a mansão
para seguir até a estalagem, onde finalmente conseguiria dormir após horas tão
cansativas de vigia. O homem negro encontrou Arcadio no salão da mansão, bem
cedo, conversando com Temístio e seus dois soldados mais leais (Belenus e
Gasparo). Akuji se juntou a eles, mas não entendia muito bem o que falavam (não
dominava o idioma Zíngaro). Akuji logo saberia, de uma maneira não muito
convencional, que falavam de uma manifestação violenta na primeira ala, onde
soldados eram feridos e respondiam a altura. Arcadio desrespeitou a ordem de
Temístio, que ficasse na mansão, e seguiu para a primeira ala, sendo protegido
por Akuji, Belenus e Gasparo (Zafar estava nas montanhas desde o dia anterior,
e permaneceria lá por um tempo, auxiliando a patrulha na busca por rastros
Pictos. ).
Gasparo e Belenus
Arcadio e seus
retentores correram pela Segunda ala e contornaram o anfiteatro para sair na
primeira, onde o caos tomava conta. Manifestantes violentos pegavam pedras e
roubavam quinquilharias de bazares para arremessar nos guardas, que apenas se
defendiam com escudos. Belenus, Akuji e Gasparo afastavam a multidão
desgovernada com encontrões utilizando os escudos, para que Arcadio pudesse
chegar até a fonte dos problemas (uma concentração no meio das feiras). Demorou
até que o filho do conde, seus retentores e Akuji chegassem, de fato que,
quando finalmente conseguiram ver Balthus e Elen no meio da confusão, o soldado
Floriano chegou , proferindo uma frase que despertaria uma réplica por parte
dos soldados: “SOLDADOS, O CONDE VALENSO NOS ORDENOU A VIOLÊNCIA!”.
Típico
casebre dos viventes da primeira ala.
A palavra “ordenou”
atingiu Arcadio como um soco. Ele parou brevemente para refletir sobre isso,
enquanto os soldados armados investiam contra homens de peito aberto, que
portavam ancinhos e pás. Sangue foi derramado em meio a terra batida e feiras
depredadas da primeira ala. Lanças atravessavam a carne de homens inocentes que
se manifestavam por passarem fome. Akuji chegou a ferir gravemente um
trabalhador, em legítima defesa. Balthus quase viu Elen ser acertada por uma
pá, mas se colocou na frente da jovem para defendê-la, o que lhe rendeu um
corte no supercílio. Balthus seria arrebentado pelo homem em fúria, se Elen não
tivesse feito algo estranho, porém, que salvou sua vida. A jovem, retribuindo sua ajuda, se colocou na
frente de Balthus, encarando o trabalhador que portava a pá. O homem
enfurecido, por sua vez, conteve sua fúria, e misteriosamente, olhou Elen nos
olhos como se estivesse hipnotizado. Isso deu tempo o suficiente para que ele
fosse atacado por outro guarda, que o desarmou.
O golpe atordoou Balthus, e a gritaria confundia seus sentidos, mas ele
poderia jurar que Elen “hipnotizou” aquele homem de alguma forma. Mesmo assim,
por hora, tudo que ele fez foi agradecê-la.
Demorou um pouco mais
até a confueram ser contida, mas, no início da tarde, tudo estava mais calmo.
Arcadio se defendeu por um bom tempo atrás do escudo de seus retentores,
enquanto observava os guardas esmagando os manifestantes com golpes brutais.
Muito provavelmente encontrariam corpos pelas valas e becos da primeira ala no
dia seguinte, pois aquele foi apenas o foco da concentração, certamente houve
embates em outras áreas, envolvendo outros soldados e civis. No fim de tudo,
Balthus e Elen chegaram a questionar Arcadio sobre a decisão de cobrar metade
dos impostos, e ele revelou Ter sido vetada por seu pai. Após uma manhã de
violência, depredação e covardia, todos voltaram para suas devidas locações,
enquanto os feridos foram auxiliados por Bartolo e os acólitos, no templo de
Mitra (que recebeu desde homens retalhados, até soldados com a cabeça
arrebentada por pedradas).
ATO 19- ANTILLIO,
UM MISTÉRIO
Elen seguiu para mansão
com Arcadio, invés de retornar para a estalagem. Deixou suas coisas por lá,
para poder descansar um pouco no conforto de uma cama mais aconchegante. O
filho do Conde a levou, e deixou sob os cuidados de uma serva, para que a jovem
pudesse se lavar e cuidar dos seus ferimentos. Ao finalmente deixar a suíte e
seguir pelo corredor da mansão, Elen se esbarrou com Antillio, que se mostrou
um homem extremamente cordial ao se desculpar pela forma que agiu durante o
encontro da tarde retrasada com a jovem. Elen consentiu com o pedido do ancião
e, mais do que isso, passou a enxergar nele, um fiel aliado a sua causa (ou,
quem sabe, um de seus piores inimigos).
Conversou pouco com o
ancião naquela tarde, mas, mais uma vez ele se mostrou sábio e misterioso
demais ao dizer palavras que Elen recebera com um certo impacto:
"Espero que a
violência dessa manhã não tenha cansado sua beleza, minha cara... Pois mais
sangue ainda será derramado esta noite. Enfim... Qualquer coisa, conte comigo
para mais uma tarde agradável de chá.".
Apesar de todo
mistério que envolvia aquele homem que a deixara no corredor e seguia para seus
aposentos, Elen esboçou um sorriso...
ATO 20- UMA NOITE
DE DOR E MORTE EM ATTASIA
Naquela noite, o
anfiteatro abriu as portas mais uma vez. Todos os residentes da mansão, guardas
e homens livres foram autorizados a conferir o evento de última hora,
organizado pelo próprio Conde Valenso. Todos se dirigiram para o local com
certa duvida. Uns chegaram antes e se acomodam, e estes que chegam, já
compreenderam o que estava por vir. No chão de terra batida, onde artistas
costumam se apresentar, troncos e forcas foram colocados durante a tarde.
Arcadio chegara junto com Elen, Antillio, Temístio e Bartolo, enquanto Akuji e
Balthus demoravam a deixar a estalagem (estes foram avisados do evento por
companheiros de ronda). Devante não tomou a frente, mas ficou sentado em um
local privilegiado do anfiteatro, cercado por guardas, enquanto observava tudo
de longe. Bartolo se sentou ao lado de Arcadio, e não conseguiu esconder seu semblante
horrorizado. Temístio também se sentou ao lado do jovem Arcadio, no entanto,
Antillio estava lá... Ao lado de Devante, de pé.
Os guardas se
colocaram em volta do anfiteatro, por dentro e por fora. Alguns se espalham na
escadaria também, para oferecer uma contensão maior. Balthus e Akuji estavam
lá, finalmente, mas como convidados. O local estava iluminado por tochas e
bacias de fogo e brasa que eram suspensas por hastes de ferro estrategicamente
posicionadas. Demorou um pouco, mas finalmente alguns guardas do lado de fora
do anfiteatro, adentraram o local escoltando homens adultos e amarrados pelos
pulsos, uns nos outros em fileira. Eram nove homens no total (Akuji e Balthus
reconheceram alguns). Temístio desceu, tomou a frente das estruturas de madeira,
e, com um semblante desconfortável, tirou um papiro enrolado de seu bolso,
proferindo tais palavras em voz alta: “Em nome do Condado de Attasia, sob as
leis decretadas pelo Conde Valenso, eu condeno estes três homens ao castigo
submetido pelo chicote Zíngaro. E, por fim, condeno a morte estes seis homens.
Todos sob as seguintes acusações: Desordem, saque, palavras amaldiçoadas
dirigidas contra seus governantes e levante de arma contra os soldados locais.
Que a sentença seja cumprida.”.
O palanque móvel só
ostentava duas forcas, nesse caso, as execuções foram feitas em três duplas. O
processo se repetiu três vezes: As cordas eram colocadas, os chãos falsos
despencavam, e os corpos caíam, tendo seus pescoços quebrados e ficando
pendurados como bonecos. O som dos ossos quebrando pode ser ouvido de longe, e
isso provoca um certo frio na espinha. Os corpos sem vida ficavam pendurados
por alguns segundos, até serem removidos e colocados estirados no chão de terra
na frente do palanque, para outra dupla tomar a frente. Um dos condenados da
ultima dupla teve a infelicidade de não ter seu pescoço quebrado, e sufocou até
a morte na frente de todos. A visão era aterradora para os que não estão
acostumados com a morte. No fim do processo, o guarda que assumiu o papel de
carrasco, junto a outros, estiraram os corpos um ao lado do outro na frente do
palanque, enquanto um dos outros julgados era amarrado em um tronco.
Um a um, cada um dos
três restantes eram castigados com 50 chicotadas. Os estalos dos chicotes se
misturavam com os gritos simultâneos de dor, assim como com as lamentações e
choros dos familiares, amigos e conhecidos dos torturados (ou mortos) que assistiam
das arquibancadas. Akuji conseguiu sentir as chicotadas em seu corpo ao ver
aqueles homens se contorcendo de dor. Quando as costas estava inchadas e
cortadas após as 50 chicotadas, um homem era solto para dar lugar a outro.
Quando, finalmente, o último deles foi castigado, Temístio mais uma vez assumiu
a frente com o rolo de papel, abrindo-o para finalizar a sentença: “Que isso
sirva de lição para todos os viventes do Condado de Attasia. Assim será com
todos que ousarem levantarem as mãos, seja contra um nobre, quanto contra um
soldado.”.
Todos foram
dispensados para seguirem onde quer que fossem passar aquela noite
traumatizante e angustiante, marcada pela dor e a tristeza. Balthus, no
entanto, com lágrimas nos olhos, auxiliou os poucos soldados que se importavam,
a enterrarem os corpos.
Dia 13 de Krinisa (Mês 08 ; Mês do Raio) de
1163
ATO 21 – O APELO DE BARTOLO
Um acólito do templo
de Mitra foi até a mansão para solicitar a presença de Arcadio no templo;
Bartolo queria vê-lo. O filho do Conde deixou a mansão rumo ao templo, enquanto
o resto da mansão ainda descia para tomar o desjejum.
O templo é relativamente isolado das demais construções, ele
fica um nível acima (pois a passagem que leva até sua única entrada é feita de
degraus curtos). Arcadio subiu a tímida escadaria até finalmente avistar o
humilde, porém, belo santuário de Mitra. Uma construção cilíndrica, que ostenta
uma bela cúpula sustentada por pilares de pedra branca e polida. Uma pequena
sacada de pedra serve como proteção contra chuva, para 4 metros de piso que
circunda o templo, formando um corredor circular pelo lado de fora. As duas
portas estavam abertas para trás, dando visão para o belo, adornado e decorado
templo. O chão polido leva ao outro lado do templo, onde estátuas de bronze dos
“anjos de Mitra” decoram e se colocam cada um de um lado do altar, que está
repleto de velas acesas. Lustres de vela e braseiros decoram o local, que é
repleto de ‘janelões’ abertos, para permitir a entrada do sol de alvorada.
Bartolo estava lá, atrás do altar, escrevendo em sua mesa (praticando sua
escrita).
Bartolo se mostrou apreensivo ao abordar Arcadio, fechando
as portas do templo para uma conversa particular. Ele se disse muito preocupado
com seu pai, que mais parece ter perdido o juízo desde que retornou da capital.
O sacerdote não conseguia deixar de associar esse comportamento a presença de
Antillio. Bartolo não sabe explicar, mas ele sente algo de ruim naquele homem,
algo que está contaminando Valenso aos poucos. A conversa seguiu, e Bartolo lamentou
ao dizer que não acreditou no que os olhos dele viram na noite passada, afinal,
profanar com a morte um lugar que, há dois dias atrás sediou uma apresentação
da fé de Attasia em Mitra!? Ele ressaltou que a fé de Mitra salvará os
Attasianos desse terror que vivem (a escassez de riquezas) e não o medo de seu
líder. Arcadio não só concordou com Bartolo, como acrescentou o fato de que seu
pai e Antillio não compareceram a peça, mas compareceram as execuções. Algo diz
ao filho do Conde que Antillio estás a tentar afastar seu pai de sua fé e,
também, de sua sanidade.
Bartolo se recostou na cadeira atrás do templo para contar
uma misteriosa história a Arcadio...
-Eu conheço Antillio
melhor do que qualquer um aqui, e sei que seu passado esconde segredos
sombrios. Quando Antillio tinha trinta anos, ele era um tesoureiro do
magistrado, atuava na corte durante a regência do Rei Ávalo. No entanto, suspeitas
de adoração a deuses pagões e da pratica a feitiçaria resultaram em seu exílio
(na verdade, Ávalo o mataria, se ele não fugisse para o sul). Não se ouviu
falar em Antillio por mais 25 anos, apesar de que, muitos dizem que ele se
refugiou nas terras Shemitas. A questão é que, poucos anos após Oliviero
assumir o trono, Antillio retornou para Zíngara sob a ordem de nosso novo Rei,
devido a falta de prova nas acusações feitas a ele pelos homens de Ávalo, e por
outros motivos (ao que parece, Antillio alertou a frota Zíngara quanto a
piratas Asgalunianos, que planejavam um saque). Antillio retornou para nossas
terras, e ganhou uma posição de prestígio na cidade de Jérida (ele rege o
conselho da cidade e organiza todas as finanças de lá também, sob a ordem do
magistrado na Capital). Passamos um bom tempo de crise após as guerras com
Poitain, crise que se estenderam até a sua adolescência. Oliviero, que ordenou
o auxílio de Antillio ao seu pai, tendo em vista que Antillio é ótimo com
finanças, um excelente tesoureiro. Antillio nos tirou da crise provocada pelas
batalhas da guerra ,e, desde então, seu pai o solicita sempre que problemas
envolvendo as riquezas do Condado nos assolam. Dessa vez não foi diferente, e
ele veio de Jerida para cá... No entanto, não consigo ver a vontade de nos
ajudar em seus olhos. Algo me desconforta neste homem. Fazem pouco mais de 10
anos, desde que Antillio retornou de vez para Zíngara... Enfim, te falo tudo
isso, meu jovem, para que você tente colocar um pouco de luz na cabeça e nas
atitudes de seu pai. Aconselhe-o, és um homem agora! E, por favor, cuidado com
Antillio... Essa conversa nunca aconteceu.
Ps. Após concluir 30 anos e ser exilado, Antillio passou
25 anos em Shem, retornou para a Zíngara 2 anos a pós a guerra do norte da
Zíngara com Poitain, e está no reino há pouco mais de dez anos, como regente do
conselho de Jerida (Isto é, Antillio tem 65 anos de idade).
ATO 22 – VERDADES POR
TRÁS DE LENDAS
Bem cedo, naquela manhã, Elen foi até Antillio, perguntar
sobre o que o homem achou do massacre da noite anterior. Antillio, calmamente,
apenas afirmou consentir com a decisão do Conde Valenso. O velho afirmou que,
as vezes, 10 precisam morrer para que 200 sejam poupados. Elen concordou com suas
palavras, por mais que isso doesse. Agradecida por mais uma agradável conversa,
a jovem se desceu para se juntar a Temístio no salão principal.
Logo após o desjejum, Temístio revelou a Elen, que gostava
de contar boas histórias, e que fazia um bom tempo que Arcadio não tinha tempo
para ouvi-las, portanto, ele pediu para contar sobre a tão famosa guerra que
ocorreu há pouco mais de uma década atrás contra os Poitainianos. Elen se
felicitou em dividir conhecimento com um homem tão sábio, e se sentou ao seu
lado no grande salão, enquanto a voz cansada de Temístio contavam uma historia
curiosa a jovem...
-Foram meses e mais
meses de batalhas incansáveis. A poderosa Aquilônia cobiçava nossas planícies,
e Oliviero finalmente ordenou nossa defesa. Temeris, de Poitain, liderava as
tropas inimigas, enquanto Valenso unificou o Condado com mais dois vilarejos do
norte Zíngaro para formar a barreira. A cavalaria impetuosa poitainiana
investia contra a parede Zíngara, mas era detida pelas Sarissas como leitões no
espeto. Muitos eram os dias em que eu olhava por esta janela, e via soldados
partindo para batalhas, muitos dos quais nunca retornaram. Oliviero é um rei
sábio, ele não nos mandava reforços da capital, e isso muito frustrou os
soldados, mas eu sempre entendi seus propósitos. Nos enviar reforços, daria
margem para que Vilerus (o rei da Aquilonia) fizesse o mesmo. E se isso
acontecesse, meus jovens, a guerra teria outro desfecho... Um desfecho não muito feliz para nós.
De qualquer forma,
essas batalhas irrigaram nossos campos com o sangue. Flechas cruzavam o céu
como uma revoada de abutres famintos, e só eram detidas pelos peitos de seus
alvos. A lamina Zíngara por muito tempo enfrentou a lâmina Aquiloniana.
Batalhas que, para nós, pareciam intermináveis. Felizmente a guerra teve um fim
trágico para eles, com a cabeça de Temeris sendo arrancada e levantada em uma
haste para que todos pudessem ver. Essa história é muito contada, mas pouco
enfatizada, devido a um fato curioso. A cabeça de Temeris não foi arrancada por
um Zíngaro, mas por um próprio Aquiloniano. Um dos muitos mercenários da
província da Gunderlândia, que contratamos na época.
Infelizmente, o
responsável por tal feito foi entregue as mãos de Mitra dois anos depois.
Vítima de uma doença terminal, uma praga que nem os acólitos do templo
conseguiram curar. Seu irmão ainda vive, atua conosco até hoje, se chama
Belenus. Um bom rapaz, excelente soldado, e sem nenhuma objeção quanto a
ocultação do feito de seu irmão mais velho. Ele entende que a história é
contada pelos vencedores, e por mais que ele estivesse lutando ao nosso lado
naquelas batalhas, a Zíngara venceu. Bons Mercenários não cobiçam grandes
feitos, eles só querem ser pagos. Bons líderes cobiçam o respeito e a admiração
de seu povo.
Após a boa história, Elen saiu para procurar Arcadio, que já
estava nas ruas desde cedo...
ATO 23- INIMIGOS
OCULTOS
Após perder parte do seu dia dentro do templo, Arcadio sai
para, coincidentemente, encontrar com Balthus, que lhe procurava. O soldado
prestou sua solidariedade ao filho do Conde, por notar em seu semblante na
noite passada, que o mesmo descordou da decisão mortal de seu pai. Enquanto
caminhavam pelo pasto que dividia a primeira da segunda ala do Condado, Arcadio
desabafou com Balthus a respeito de Antillio, e ressaltou temer que Elen não
esteja ao seu lado (pelo fato de que, até hoje, a mesma não soltou uma palavra
sequer a respeito do encontro com Antillio). Balthus suspeitou desse receio de
Arcadio, pois, por mais que às vezes discordasse da jovem, não via tal maldade
nela.
Elen e Akuji juntaram-se aos dois rapidamente, se
encontraram nos portões da mansão. A jovem percebeu que olhares estranhos
partiam de Balthus e Arcadio, e decidiu comprometer sua integridade para se
safar momentaneamente de ser descoberta. Elen não entregou sua real identidade,
mas sim a de Antillio. A jovem disse que a tarde não passou de uma bela tarde
de chá e boas conversas, mas que percebeu que Antillio possui a capacidade de
lidar com a feitiçaria. Balthus se assustou com o que foi dito...
A notícia fora tão bombástica para o soldado e o filho do
Conde, que eles esqueceram de Elen, para pensar apenas em Antillio, e a ameaça
que ele poderia oferecer, se isso fosse verdade. Elen conseguiu o que queria,
despistar suas acusações. No entanto, isso não quer dizer que desfazer uma
suposta aliança com Antillio fazia parte de seus planos. Apesar de tudo, a
jovem ainda via o ancião como um aliado.
ATO 24- O GOLPE DA
REALIDADE
Elen pediu que Balthus e Akuji a acompanhassem até a
estalagem, onde ela poderia pegar suas coisas e se mudar de vez para um
aposento na mansão. Os três rumaram para a Estalagem das Sete Velas na primeira
ala, enquanto Arcadio adentrou a mansão correndo em direção aos aposentos de
seu pai. Arcadio adentrou sem bater nos aposentos de Devante, que apenas estava
sentado em sua poltrona acolchoada, o observando do fundo do aposento. Arcadio
condenou a decisão de executar aqueles homens, mas Valenso se levantou culpando-o
do ato: “Se você não tivesse prometido a
cobrança da metade dos impostos, sem me consultar antes, nada disso teria
acontecido. Esse sangue está em suas mãos!”
A discussão foi ficando mais intensa, e Devante provou
Arcadio, dizendo que nada do que ele faz passa despercebido de seus olhos. O
homem revelou saber que eles se reuniram em conselho por suas costas, e sabe
que essa decisão, vetada por ele, foi consentida por cada membro do conselho,
até mesmo pelo desaparecido Galbro: -Você
é um ótimo membro do conselho, meu filho... Mas se esquece de um detalhe
importantíssimo: O conselho só tem autoridade enquanto eu estiver fora do
Condado!
Arcadio se defendeu das acusações com perguntas e mais
acusações. O jovem dizia que isso tudo só aconteceu, porque seu pai manteve-se
recluso quanto as informações importantes que ele possuía da capital,
informações que podem até mesmo explicar o motivo do auxílio financeiro do Rei
não estar chegando em Attasia. Sem deixar Devante falar, Arcadio continuou sua
argumentação com perguntas, sem a pretensão alguma de obter respostas: -O que houve com o auxílio do Rei? Por que
não sei desse aposento? Sua solução para Attasia é deixá-la as moscas? O que
houve com o homem que eu conheci antes?
-OLIVIERO ESTÁ MORTO!
_Gritou Devante, cortando as palavras de Arcadio. -Por isso fui a capital, por isso estou no meu quarto, frequentemente
escrevendo cartas. Por isso vetei sua decisão. Por isso o auxílio não virá
mais!
Arcadio apenas ficou calado, com um olhar de pânico.
-Convoque um conselho.
_Disse Devante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário