quinta-feira, 26 de junho de 2014

Diário da segunda sessão- Capitulo 1- Attasia, parte 3

ATO 16- PÃO E CIRCO
Tensão definia o clima do anfiteatro. O lugar estava lotado, e todos estavam calados apenas aguardando. Arcadio, assim como Bartolo e todo elenco da peça estavam atrás das pilastras que antecediam a área onde ocorreria a apresentação. Arcadio se concentrava para seu discurso, quando Bartolo anunciou ao jovem que um pequeno grupo de insatisfeitos se manifestavam do lado de fora do anfiteatro. Os pães de Adolphus chegaram, e, quando isso foi informado a Arcadio por um guarda, o filho do Conde finalmente mostrou sua face para todos os presentes, sentados impacientemente nas arquibancadas.



Anfiteatro de Attasia


Arcadio não tardou em iniciar seu discurso, anunciando não só os jogos que teriam inicio no mês que vem, como a redução dos impostos a metade (mesmo sem o consentimento de seu pai). Não foram todos os satisfeitos,mas a maioria esmagadora do anfiteatro aplaudiu a decisão tomada por Arcadio ao fim do discurso, o que contrastou com a leve massa de indignados que amaldiçoavam o nome da família Valenso, além dos muros do anfiteatro.
Com uma contenção maior por parte dos guardas, os pacíficos manifestantes se dispersaram, e a peça ocorreu conforme Bartolo planejou e organizou... A apresentação foi um sucesso. Apesar de tendenciosa (afinal, o tema da peça fazia uma analogia da fé dos Attasianos em Mitra com a capacidade de Valenso na vitória contra os Poitainianos), todos aplaudiram o espetáculo. Do anfiteatro, finalmente,  todos foram para suas devidas locações, a fim de descansar para mais um dia, com exceção de Arcadio.
O filho do Conde foi interceptado por Balthus que, após passar o dia inteiro descendo os corpos decapitados das montanhas, resolveu informá-lo sobre o ocorrido. Ambos conversaram por um bom tempo, tanto a respeito de um reforço na patrulha das montanhas, quanto a respeito da descontentação de parte dos Attasianos, com relação ao retorno das moedas. Nessa conversa entre os dois, algumas decisões foram tomadas: Feno e óleo seriam colocados em pontos estratégicos da montanha de hispan, para ‘avisar’ aos Attasianos com piras a respeito de supostos ataques Pictos. A patrulha nas montanhas seria reforçada. Balthus tiraria alguns dias para permanecer entre os viventes da primeira ala, investigando supostos suspeitos de organizar um motim contra o Conde.

Após a breve conversa entre os dois, que se estendeu noite adentro, ambos resolveram retornar para seus aposentos. Balthus deixou sua arma e armadura no posto, retornando para estalagem das sete velas, e Arcadio retornou para a mansão, onde finalmente informaria seu pai das decisões tomadas e executadas. Akuji seguiu com o filho do Conde, pois ficaria de vigia no terraço da mansão durante o resto da noite.

ATO 17 - DECISÃO VETADA
Já era bem tarde quando Arcadio retornou para a mansão, e correu rumo aos aposentos de seu pai (levando uma bandeja para que ambos pudessem degustar algo enquanto conversavam). Apesar da noite estar escura demais para conversas importantes, Devante recebeu seu filho, e ambos conversavam a respeito das decisões. Devante aprovou a decisão de mais eventos no anfiteatro e se felicitou ao saber que a peça foi aplaudida (também elogiou as ideias de Balthus a respeito das piras nas montanhas e o reforço nas patrulhas), no entanto, nem tudo foi aceito pelo conde. Devante Valenso vetou a ideia de cobrar apenas a metade dos impostos, mesmo após Arcadio já Ter anunciado.

Devante não entrou no mérito da precoce contratação de Akuji e Balthus, pois assumiu que, realmente, o condado está desesperado por poderio militar (principalmente depois da morte dos patrulheiros e o desaparecimento de Galbro; ao que parece, a capital não está enviando soldados também). Arcadio ressentiu a decisão, pois este anuncio rendeu bons aplausos no anfiteatro, mas nada podia fazer quanto a decisão de seu pai. No dia seguinte, dia dos impostos serem cobrados, os Attasianos teriam uma surpresa nada agradável...


Dia 12 de Krinisa (Mês 08 ; Mês do Raio) de 1163

ATO 18 - O LEVANTE DOS ATTASIANOS
Ao amanhecer, Balthus desceu para o desjejum na estalagem, e encontrou Elen (seu, até então, desafeto; Balthus não havia se dado muito bem com a jovem em outros encontros). Balthus sondou as mesas para tentar ouvir as conversas (na tentativa de colher informações sobre possíveis levantes), enquanto Elen (entrona como sempre) seguiu para a cozinha da estalagem, estranhando que a filha do dono atuava servindo as mesas. O estalajadeiro chorava na cozinha, e afirmou a jovem que o motivo de seus prantos era a falência inevitável: “Nós fomos enganados pelo Conde e seu filho... Os guardas exigiram a cobrança integral dos tributos, e eu tive que entregar todos os meus lucros.”.

Tomada por uma indignação notória, Elen deixou a cozinha e cuspiu essas verdades na cara de Balthus, que pegou a jovem pelo braço, e seguiu pela primeira ala na busca de um soldado que pudesse levá-los até o encontro de Arcadio. Balthus queria explicações. O casal disparou em direção aos bazares na busca de um guarda, mas tudo que conseguiram foi o caos. Homens e mulheres corriam em direções diferentes ,dificultando a passada. Balthus não conseguia enxergar nada por entre a multidão, que corria no sentido contrário a ele. Muitas vezes empurrado para trás, o Aquiloniano tentava investir na base da força, tirando as pessoas assustadas, que corriam de forma desgovernada. Elen foi empurrada e chegou a se machucar, mas finalmente chegaram a um soldado, e perguntaram o que acontecia.

...

Akuji deixava a mansão para seguir até a estalagem, onde finalmente conseguiria dormir após horas tão cansativas de vigia. O homem negro encontrou Arcadio no salão da mansão, bem cedo, conversando com Temístio e seus dois soldados mais leais (Belenus e Gasparo). Akuji se juntou a eles, mas não entendia muito bem o que falavam (não dominava o idioma Zíngaro). Akuji logo saberia, de uma maneira não muito convencional, que falavam de uma manifestação violenta na primeira ala, onde soldados eram feridos e respondiam a altura. Arcadio desrespeitou a ordem de Temístio, que ficasse na mansão, e seguiu para a primeira ala, sendo protegido por Akuji, Belenus e Gasparo (Zafar estava nas montanhas desde o dia anterior, e permaneceria lá por um tempo, auxiliando a patrulha na busca por rastros Pictos. ).


Gasparo e Belenus

Arcadio e seus retentores correram pela Segunda ala e contornaram o anfiteatro para sair na primeira, onde o caos tomava conta. Manifestantes violentos pegavam pedras e roubavam quinquilharias de bazares para arremessar nos guardas, que apenas se defendiam com escudos. Belenus, Akuji e Gasparo afastavam a multidão desgovernada com encontrões utilizando os escudos, para que Arcadio pudesse chegar até a fonte dos problemas (uma concentração no meio das feiras). Demorou até que o filho do conde, seus retentores e Akuji chegassem, de fato que, quando finalmente conseguiram ver Balthus e Elen no meio da confusão, o soldado Floriano chegou , proferindo uma frase que despertaria uma réplica por parte dos soldados: “SOLDADOS, O CONDE VALENSO NOS ORDENOU A VIOLÊNCIA!”.

 Típico casebre dos viventes da primeira ala.

A palavra “ordenou” atingiu Arcadio como um soco. Ele parou brevemente para refletir sobre isso, enquanto os soldados armados investiam contra homens de peito aberto, que portavam ancinhos e pás. Sangue foi derramado em meio a terra batida e feiras depredadas da primeira ala. Lanças atravessavam a carne de homens inocentes que se manifestavam por passarem fome. Akuji chegou a ferir gravemente um trabalhador, em legítima defesa. Balthus quase viu Elen ser acertada por uma pá, mas se colocou na frente da jovem para defendê-la, o que lhe rendeu um corte no supercílio. Balthus seria arrebentado pelo homem em fúria, se Elen não tivesse feito algo estranho, porém, que salvou sua vida.  A jovem, retribuindo sua ajuda, se colocou na frente de Balthus, encarando o trabalhador que portava a pá. O homem enfurecido, por sua vez, conteve sua fúria, e misteriosamente, olhou Elen nos olhos como se estivesse hipnotizado. Isso deu tempo o suficiente para que ele fosse atacado por outro guarda, que o desarmou.  O golpe atordoou Balthus, e a gritaria confundia seus sentidos, mas ele poderia jurar que Elen “hipnotizou” aquele homem de alguma forma. Mesmo assim, por hora, tudo que ele fez foi agradecê-la.
Demorou um pouco mais até a confueram ser contida, mas, no início da tarde, tudo estava mais calmo. Arcadio se defendeu por um bom tempo atrás do escudo de seus retentores, enquanto observava os guardas esmagando os manifestantes com golpes brutais. Muito provavelmente encontrariam corpos pelas valas e becos da primeira ala no dia seguinte, pois aquele foi apenas o foco da concentração, certamente houve embates em outras áreas, envolvendo outros soldados e civis. No fim de tudo, Balthus e Elen chegaram a questionar Arcadio sobre a decisão de cobrar metade dos impostos, e ele revelou Ter sido vetada por seu pai. Após uma manhã de violência, depredação e covardia, todos voltaram para suas devidas locações, enquanto os feridos foram auxiliados por Bartolo e os acólitos, no templo de Mitra (que recebeu desde homens retalhados, até soldados com a cabeça arrebentada por pedradas).


ATO 19- ANTILLIO, UM MISTÉRIO
Elen seguiu para mansão com Arcadio, invés de retornar para a estalagem. Deixou suas coisas por lá, para poder descansar um pouco no conforto de uma cama mais aconchegante. O filho do Conde a levou, e deixou sob os cuidados de uma serva, para que a jovem pudesse se lavar e cuidar dos seus ferimentos. Ao finalmente deixar a suíte e seguir pelo corredor da mansão, Elen se esbarrou com Antillio, que se mostrou um homem extremamente cordial ao se desculpar pela forma que agiu durante o encontro da tarde retrasada com a jovem. Elen consentiu com o pedido do ancião e, mais do que isso, passou a enxergar nele, um fiel aliado a sua causa (ou, quem sabe, um de seus piores inimigos).
Conversou pouco com o ancião naquela tarde, mas, mais uma vez ele se mostrou sábio e misterioso demais ao dizer palavras que Elen recebera com um certo impacto:

"Espero que a violência dessa manhã não tenha cansado sua beleza, minha cara... Pois mais sangue ainda será derramado esta noite. Enfim... Qualquer coisa, conte comigo para mais uma tarde agradável de chá.".

Apesar de todo mistério que envolvia aquele homem que a deixara no corredor e seguia para seus aposentos, Elen esboçou um sorriso...


ATO 20- UMA NOITE DE DOR E MORTE EM ATTASIA
Naquela noite, o anfiteatro abriu as portas mais uma vez. Todos os residentes da mansão, guardas e homens livres foram autorizados a conferir o evento de última hora, organizado pelo próprio Conde Valenso. Todos se dirigiram para o local com certa duvida. Uns chegaram antes e se acomodam, e estes que chegam, já compreenderam o que estava por vir. No chão de terra batida, onde artistas costumam se apresentar, troncos e forcas foram colocados durante a tarde. Arcadio chegara junto com Elen, Antillio, Temístio e Bartolo, enquanto Akuji e Balthus demoravam a deixar a estalagem (estes foram avisados do evento por companheiros de ronda). Devante não tomou a frente, mas ficou sentado em um local privilegiado do anfiteatro, cercado por guardas, enquanto observava tudo de longe. Bartolo se sentou ao lado de Arcadio, e não conseguiu esconder seu semblante horrorizado. Temístio também se sentou ao lado do jovem Arcadio, no entanto, Antillio estava lá... Ao lado de Devante, de pé.

Os guardas se colocaram em volta do anfiteatro, por dentro e por fora. Alguns se espalham na escadaria também, para oferecer uma contensão maior. Balthus e Akuji estavam lá, finalmente, mas como convidados. O local estava iluminado por tochas e bacias de fogo e brasa que eram suspensas por hastes de ferro estrategicamente posicionadas. Demorou um pouco, mas finalmente alguns guardas do lado de fora do anfiteatro, adentraram o local escoltando homens adultos e amarrados pelos pulsos, uns nos outros em fileira. Eram nove homens no total (Akuji e Balthus reconheceram alguns). Temístio desceu, tomou a frente das estruturas de madeira, e, com um semblante desconfortável, tirou um papiro enrolado de seu bolso, proferindo tais palavras em voz alta: “Em nome do Condado de Attasia, sob as leis decretadas pelo Conde Valenso, eu condeno estes três homens ao castigo submetido pelo chicote Zíngaro. E, por fim, condeno a morte estes seis homens. Todos sob as seguintes acusações: Desordem, saque, palavras amaldiçoadas dirigidas contra seus governantes e levante de arma contra os soldados locais. Que a sentença seja cumprida.”.


O palanque móvel só ostentava duas forcas, nesse caso, as execuções foram feitas em três duplas. O processo se repetiu três vezes: As cordas eram colocadas, os chãos falsos despencavam, e os corpos caíam, tendo seus pescoços quebrados e ficando pendurados como bonecos. O som dos ossos quebrando pode ser ouvido de longe, e isso provoca um certo frio na espinha. Os corpos sem vida ficavam pendurados por alguns segundos, até serem removidos e colocados estirados no chão de terra na frente do palanque, para outra dupla tomar a frente. Um dos condenados da ultima dupla teve a infelicidade de não ter seu pescoço quebrado, e sufocou até a morte na frente de todos. A visão era aterradora para os que não estão acostumados com a morte. No fim do processo, o guarda que assumiu o papel de carrasco, junto a outros, estiraram os corpos um ao lado do outro na frente do palanque, enquanto um dos outros julgados era amarrado em um tronco.

Um a um, cada um dos três restantes eram castigados com 50 chicotadas. Os estalos dos chicotes se misturavam com os gritos simultâneos de dor, assim como com as lamentações e choros dos familiares, amigos e conhecidos dos torturados (ou mortos) que assistiam das arquibancadas. Akuji conseguiu sentir as chicotadas em seu corpo ao ver aqueles homens se contorcendo de dor. Quando as costas estava inchadas e cortadas após as 50 chicotadas, um homem era solto para dar lugar a outro. Quando, finalmente, o último deles foi castigado, Temístio mais uma vez assumiu a frente com o rolo de papel, abrindo-o para finalizar a sentença: “Que isso sirva de lição para todos os viventes do Condado de Attasia. Assim será com todos que ousarem levantarem as mãos, seja contra um nobre, quanto contra um soldado.”.
Todos foram dispensados para seguirem onde quer que fossem passar aquela noite traumatizante e angustiante, marcada pela dor e a tristeza. Balthus, no entanto, com lágrimas nos olhos, auxiliou os poucos soldados que se importavam, a enterrarem os corpos.


Dia 13 de Krinisa (Mês 08 ; Mês do Raio) de 1163


ATO 21 – O APELO DE BARTOLO
Um acólito do templo de Mitra foi até a mansão para solicitar a presença de Arcadio no templo; Bartolo queria vê-lo. O filho do Conde deixou a mansão rumo ao templo, enquanto o resto da mansão ainda descia para tomar o desjejum.

O templo é relativamente isolado das demais construções, ele fica um nível acima (pois a passagem que leva até sua única entrada é feita de degraus curtos). Arcadio subiu a tímida escadaria até finalmente avistar o humilde, porém, belo santuário de Mitra. Uma construção cilíndrica, que ostenta uma bela cúpula sustentada por pilares de pedra branca e polida. Uma pequena sacada de pedra serve como proteção contra chuva, para 4 metros de piso que circunda o templo, formando um corredor circular pelo lado de fora. As duas portas estavam abertas para trás, dando visão para o belo, adornado e decorado templo. O chão polido leva ao outro lado do templo, onde estátuas de bronze dos “anjos de Mitra” decoram e se colocam cada um de um lado do altar, que está repleto de velas acesas. Lustres de vela e braseiros decoram o local, que é repleto de ‘janelões’ abertos, para permitir a entrada do sol de alvorada. Bartolo estava lá, atrás do altar, escrevendo em sua mesa (praticando sua escrita).




Bartolo se mostrou apreensivo ao abordar Arcadio, fechando as portas do templo para uma conversa particular. Ele se disse muito preocupado com seu pai, que mais parece ter perdido o juízo desde que retornou da capital. O sacerdote não conseguia deixar de associar esse comportamento a presença de Antillio. Bartolo não sabe explicar, mas ele sente algo de ruim naquele homem, algo que está contaminando Valenso aos poucos. A conversa seguiu, e Bartolo lamentou ao dizer que não acreditou no que os olhos dele viram na noite passada, afinal, profanar com a morte um lugar que, há dois dias atrás sediou uma apresentação da fé de Attasia em Mitra!? Ele ressaltou que a fé de Mitra salvará os Attasianos desse terror que vivem (a escassez de riquezas) e não o medo de seu líder. Arcadio não só concordou com Bartolo, como acrescentou o fato de que seu pai e Antillio não compareceram a peça, mas compareceram as execuções. Algo diz ao filho do Conde que Antillio estás a tentar afastar seu pai de sua fé e, também, de sua sanidade.

Bartolo se recostou na cadeira atrás do templo para contar uma misteriosa história a Arcadio...

-Eu conheço Antillio melhor do que qualquer um aqui, e sei que seu passado esconde segredos sombrios. Quando Antillio tinha trinta anos, ele era um tesoureiro do magistrado, atuava na corte durante a regência do Rei Ávalo. No entanto, suspeitas de adoração a deuses pagões e da pratica a feitiçaria resultaram em seu exílio (na verdade, Ávalo o mataria, se ele não fugisse para o sul). Não se ouviu falar em Antillio por mais 25 anos, apesar de que, muitos dizem que ele se refugiou nas terras Shemitas. A questão é que, poucos anos após Oliviero assumir o trono, Antillio retornou para Zíngara sob a ordem de nosso novo Rei, devido a falta de prova nas acusações feitas a ele pelos homens de Ávalo, e por outros motivos (ao que parece, Antillio alertou a frota Zíngara quanto a piratas Asgalunianos, que planejavam um saque). Antillio retornou para nossas terras, e ganhou uma posição de prestígio na cidade de Jérida (ele rege o conselho da cidade e organiza todas as finanças de lá também, sob a ordem do magistrado na Capital). Passamos um bom tempo de crise após as guerras com Poitain, crise que se estenderam até a sua adolescência. Oliviero, que ordenou o auxílio de Antillio ao seu pai, tendo em vista que Antillio é ótimo com finanças, um excelente tesoureiro. Antillio nos tirou da crise provocada pelas batalhas da guerra ,e, desde então, seu pai o solicita sempre que problemas envolvendo as riquezas do Condado nos assolam. Dessa vez não foi diferente, e ele veio de Jerida para cá... No entanto, não consigo ver a vontade de nos ajudar em seus olhos. Algo me desconforta neste homem. Fazem pouco mais de 10 anos, desde que Antillio retornou de vez para Zíngara... Enfim, te falo tudo isso, meu jovem, para que você tente colocar um pouco de luz na cabeça e nas atitudes de seu pai. Aconselhe-o, és um homem agora! E, por favor, cuidado com Antillio... Essa conversa nunca aconteceu.

Ps. Após concluir 30 anos e ser exilado, Antillio passou 25 anos em Shem, retornou para a Zíngara 2 anos a pós a guerra do norte da Zíngara com Poitain, e está no reino há pouco mais de dez anos, como regente do conselho de Jerida (Isto é, Antillio tem 65 anos de idade).
                       

ATO 22 – VERDADES POR TRÁS DE LENDAS
Bem cedo, naquela manhã, Elen foi até Antillio, perguntar sobre o que o homem achou do massacre da noite anterior. Antillio, calmamente, apenas afirmou consentir com a decisão do Conde Valenso. O velho afirmou que, as vezes, 10 precisam morrer para que 200 sejam poupados. Elen concordou com suas palavras, por mais que isso doesse. Agradecida por mais uma agradável conversa, a jovem se desceu para se juntar a Temístio no salão principal.




Logo após o desjejum, Temístio revelou a Elen, que gostava de contar boas histórias, e que fazia um bom tempo que Arcadio não tinha tempo para ouvi-las, portanto, ele pediu para contar sobre a tão famosa guerra que ocorreu há pouco mais de uma década atrás contra os Poitainianos. Elen se felicitou em dividir conhecimento com um homem tão sábio, e se sentou ao seu lado no grande salão, enquanto a voz cansada de Temístio contavam uma historia curiosa a jovem...

-Foram meses e mais meses de batalhas incansáveis. A poderosa Aquilônia cobiçava nossas planícies, e Oliviero finalmente ordenou nossa defesa. Temeris, de Poitain, liderava as tropas inimigas, enquanto Valenso unificou o Condado com mais dois vilarejos do norte Zíngaro para formar a barreira. A cavalaria impetuosa poitainiana investia contra a parede Zíngara, mas era detida pelas Sarissas como leitões no espeto. Muitos eram os dias em que eu olhava por esta janela, e via soldados partindo para batalhas, muitos dos quais nunca retornaram. Oliviero é um rei sábio, ele não nos mandava reforços da capital, e isso muito frustrou os soldados, mas eu sempre entendi seus propósitos. Nos enviar reforços, daria margem para que Vilerus (o rei da Aquilonia) fizesse o mesmo. E se isso acontecesse, meus jovens, a guerra teria outro desfecho...  Um desfecho não muito feliz para nós. 

De qualquer forma, essas batalhas irrigaram nossos campos com o sangue. Flechas cruzavam o céu como uma revoada de abutres famintos, e só eram detidas pelos peitos de seus alvos. A lamina Zíngara por muito tempo enfrentou a lâmina Aquiloniana. Batalhas que, para nós, pareciam intermináveis. Felizmente a guerra teve um fim trágico para eles, com a cabeça de Temeris sendo arrancada e levantada em uma haste para que todos pudessem ver. Essa história é muito contada, mas pouco enfatizada, devido a um fato curioso. A cabeça de Temeris não foi arrancada por um Zíngaro, mas por um próprio Aquiloniano. Um dos muitos mercenários da província da Gunderlândia, que contratamos na época.

Infelizmente, o responsável por tal feito foi entregue as mãos de Mitra dois anos depois. Vítima de uma doença terminal, uma praga que nem os acólitos do templo conseguiram curar. Seu irmão ainda vive, atua conosco até hoje, se chama Belenus. Um bom rapaz, excelente soldado, e sem nenhuma objeção quanto a ocultação do feito de seu irmão mais velho. Ele entende que a história é contada pelos vencedores, e por mais que ele estivesse lutando ao nosso lado naquelas batalhas, a Zíngara venceu. Bons Mercenários não cobiçam grandes feitos, eles só querem ser pagos. Bons líderes cobiçam o respeito e a admiração de seu povo.

Após a boa história, Elen saiu para procurar Arcadio, que já estava nas ruas desde cedo...


ATO 23- INIMIGOS OCULTOS
Após perder parte do seu dia dentro do templo, Arcadio sai para, coincidentemente, encontrar com Balthus, que lhe procurava. O soldado prestou sua solidariedade ao filho do Conde, por notar em seu semblante na noite passada, que o mesmo descordou da decisão mortal de seu pai. Enquanto caminhavam pelo pasto que dividia a primeira da segunda ala do Condado, Arcadio desabafou com Balthus a respeito de Antillio, e ressaltou temer que Elen não esteja ao seu lado (pelo fato de que, até hoje, a mesma não soltou uma palavra sequer a respeito do encontro com Antillio). Balthus suspeitou desse receio de Arcadio, pois, por mais que às vezes discordasse da jovem, não via tal maldade nela.

Elen e Akuji juntaram-se aos dois rapidamente, se encontraram nos portões da mansão. A jovem percebeu que olhares estranhos partiam de Balthus e Arcadio, e decidiu comprometer sua integridade para se safar momentaneamente de ser descoberta. Elen não entregou sua real identidade, mas sim a de Antillio. A jovem disse que a tarde não passou de uma bela tarde de chá e boas conversas, mas que percebeu que Antillio possui a capacidade de lidar com a feitiçaria. Balthus se assustou com o que foi dito...
A notícia fora tão bombástica para o soldado e o filho do Conde, que eles esqueceram de Elen, para pensar apenas em Antillio, e a ameaça que ele poderia oferecer, se isso fosse verdade. Elen conseguiu o que queria, despistar suas acusações. No entanto, isso não quer dizer que desfazer uma suposta aliança com Antillio fazia parte de seus planos. Apesar de tudo, a jovem ainda via o ancião como um aliado.


ATO 24- O GOLPE DA REALIDADE
Elen pediu que Balthus e Akuji a acompanhassem até a estalagem, onde ela poderia pegar suas coisas e se mudar de vez para um aposento na mansão. Os três rumaram para a Estalagem das Sete Velas na primeira ala, enquanto Arcadio adentrou a mansão correndo em direção aos aposentos de seu pai. Arcadio adentrou sem bater nos aposentos de Devante, que apenas estava sentado em sua poltrona acolchoada, o observando do fundo do aposento. Arcadio condenou a decisão de executar aqueles homens, mas Valenso se levantou culpando-o do ato: “Se você não tivesse prometido a cobrança da metade dos impostos, sem me consultar antes, nada disso teria acontecido. Esse sangue está em suas mãos!”

A discussão foi ficando mais intensa, e Devante provou Arcadio, dizendo que nada do que ele faz passa despercebido de seus olhos. O homem revelou saber que eles se reuniram em conselho por suas costas, e sabe que essa decisão, vetada por ele, foi consentida por cada membro do conselho, até mesmo pelo desaparecido Galbro: -Você é um ótimo membro do conselho, meu filho... Mas se esquece de um detalhe importantíssimo: O conselho só tem autoridade enquanto eu estiver fora do Condado!

Arcadio se defendeu das acusações com perguntas e mais acusações. O jovem dizia que isso tudo só aconteceu, porque seu pai manteve-se recluso quanto as informações importantes que ele possuía da capital, informações que podem até mesmo explicar o motivo do auxílio financeiro do Rei não estar chegando em Attasia. Sem deixar Devante falar, Arcadio continuou sua argumentação com perguntas, sem a pretensão alguma de obter respostas: -O que houve com o auxílio do Rei? Por que não sei desse aposento? Sua solução para Attasia é deixá-la as moscas? O que houve com o homem que eu conheci antes?

-OLIVIERO ESTÁ MORTO! _Gritou Devante, cortando as palavras de Arcadio. -Por isso fui a capital, por isso estou no meu quarto, frequentemente escrevendo cartas. Por isso vetei sua decisão. Por isso o auxílio não virá mais!

Arcadio apenas ficou calado, com um olhar de pânico.


-Convoque um conselho. _Disse Devante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário