segunda-feira, 29 de setembro de 2014

De punhos serrados

-Venha garota! Você vai aquecer minha cama essa noite. _O soldado de túnica acinzentada se levantou da cadeira e agarrou a jovem de pele parda pela cintura. Retraída e assustada, ela cedeu.

-Que tal um duelo pelo prazer da presença dela? _Zafar não conseguiu conter as palavras. Sua avidez era nutrida por um forte afeto que sentia por Hanna.

-Há muitas mulheres por aqui, cão. Nenhuma delas vale o nosso sangue... Escolha qualquer outra e aproveite um dos quartos do andar de cima. Quem sabe uma noite entre as pernas de uma mulher não coloque um pouco mais de equilíbrio em seus atos. _Zafar projetou a cadeira para trás e se levantou.

-Meus atos estão bem equilibrados. Mantenho o convite, e não aceito “não” como resposta. _Tocou uma adaga que guardava em seu cinto, arrancando alguns sorrisos da mesa.

-Como quiser, Shemita. _O soldado conduziu Hanna a sentar numa cadeira. –Terá seu duelo, mas não usarei minha lâmina. _Afrouxou o cinto que comprimia sua túnica, cuja espada longa pendia dentro de uma bainha de couro. –Usemos as mãos! Não quero sujar o local com o seu sangue. De acordo? _Jogou o cinto com a espada embainhada no colo da jovem.

-Justo! _Zafar colocou a adaga sobre a mesa. De repente, todos os soldados se calaram, com os olhares atraídos para os dois. O rufião, atrás do balcão, simplesmente cruzou os braços, esperando que nenhuma mulher se ferisse ou nada fosse quebrado em seu estabelecimento. Arpello mastigava seu bigode, costumava fazer isso quando estava ansioso. O vozerio só se instaurou novamente, quando um dos soldados, um homem de nariz curvo, bigode fino e cabelo emaranhado na altura do ombro, rompeu o silêncio.

-QUEBRE O NARIZ DELE, CETHUS! _Os soldados das mesas próximas começaram a comemorar, ao passo em que os das demais mesas apenas conversavam entre si, com os olhares focados na contenda.

Sem qualquer tipo de aviso, Cethus projetou o pé esquerdo para frente e socou com a direita, atingindo a face de Zafar, que cambaleou desconcertado e derrubou uma cadeira. Aproveitando a situação, deu três passos adiante e cruzou com a esquerda, mas Zafar conseguira se recuperar do susto para tirar o rosto da direção do golpe. Sentiu o vento do punho soprar no seu rosto, antes da esquerda novamente amaciá-lo. O punho ossudo do soldado rompeu o supercílio, e ele pôde sentir o sangue quente correr por seu cenho. Após conseguir se firmar, o Shemita aproveitou a distância encurtada entre eles para levar rapidamente o punho cerrado em direção ao estômago do atacante. Ficou gratificado com o som abafado de seu golpe, e então se afastou dois passos, enquanto o soldado recuperava o fôlego.

-Espero que saiba que eu só vou parar de te bater, quando não puder mais abrir os olhos. _Praguejou Cethus com o olhar ardendo em fúria. O soldado encurtou a distância novamente, de forma imprudente, mergulhando Zafar em uma saraivada de golpes. Tentou ficar longe e aparar a maioria, mas o homem estava em cima dele, martelando os punhos no estômago e nos rins. Os socos vinham de todos os ângulos, e quando a dor finalmente o fez se curvar, sofreu um golpe no rosto de baixo pra cima que o fez balançar pra trás. Caiu e permaneceu desconcertadamente de quatro. Sentiu o gosto do sangue e seu olho esquerdo estava se fechando, inchado sob o ataque do homem enfurecido. Cuspiu uma mistura de sangue com saliva, provocando uma linha rubra entre sua boca e o assoalho de madeira. Cethus ficara parado, como se a vontade de vê-lo morto tivesse desaparecido. No entanto, insistente, Zafar se levantou...

O Shemita deu três passos para trás, para ter tempo de se recompor, mas Cethus partiu para cima sem qualquer resquício de remorso, movendo a cabeça e o corpo, procurando o melhor lugar para acertar. Zafar desviou do primeiro soco, sentindo o antebraço deslizar em seu rosto manchado. Em resposta, levou seu punho direito novamente ao estômago do soldado com toda a potência de seus ombros, e foi recompensado com o ofegar de dor. O segundo soco, no entanto, atingiu novamente Zafar... Um cruzado de esquerda na altura do queixo. O mundo ficou negro e ele caiu, mal sentindo as tábuas de madeira embaixo. De quatro novamente e esbaforido como um animal, não fora poupado dessa vez. A bota de Cethus o atingiu nas costelas, e ele desabou com as costas no chão. A contenda havia terminado, mas ainda existia impetuosidade inundando o interior do homem de pele clara e ombros largos.

Cethus montou no corpo impotente de Zafar, o segurou pelo colarinho do gibão e começou a socar seu rosto repetidamente. Depois do primeiro soco, o Shemita já havia perdido a consciência, ainda assim, o instinto violento ditava as atitudes do soldado. Depois do primeiro, veio o segundo, o terceiro, o quarto... O punho escarlate subia e descia com o impulso do ombro. O rosto de Zafar, inchado e empapado de sangue, nem esboçava mais dor. Com os olhos virados e a boca debilmente aberta, ele estava à mercê dos impulsos frenéticos de Cethus. Contudo, antes que o quinto soco o acertasse, um braço forte e penoso o deteve. Era Arpello...

-Já é o suficiente, homem... _O tirou de cima de Zafar. –Pegue a garota e suba, ou vai acabar matando o cão. _O soldado cuspiu como sinal de desprezo a Zafar e foi até Hanna. Colocou o cinto e a agarrou novamente pela cintura.

-Homem! _Cethus, ofegante, chamou a atenção de Balthus, que perdia o olhar assustado no corpo caído de Zafar. -Leve seu companheiro embora! Não há mais nada para ele fazer aqui. –Balthus assentiu e se levantou para ajudar seu amigo, enquanto Hanna era levada para um dos quartos do andar de cima.

Foto: Matheus Marraschi

"DE PUNHOS CERRADOS"

-Venha garota! Você vai aquecer minha cama essa noite. _O soldado de túnica acinzentada se levantou da cadeira e agarrou a jovem de pele parda pela cintura. Retraída e assustada, ela cedeu. 

-Que tal um duelo pelo prazer da presença dela? _Zafar não conseguiu conter as palavras. Sua avidez era nutrida por um forte afeto que sentia por Hanna.

-Há muitas mulheres por aqui, cão. Nenhuma delas vale o nosso sangue... Escolha qualquer outra e aproveite um dos quartos do andar de cima. Quem sabe uma noite entre as pernas de uma mulher não coloque um pouco mais de equilíbrio em seus atos. _Zafar projetou a cadeira para trás e se levantou.

-Meus atos estão bem equilibrados. Mantenho o convite, e não aceito “não” como resposta. _Tocou uma adaga que guardava em seu cinto, arrancando alguns sorrisos da mesa. 

-Como quiser, Shemita. _O soldado conduziu Hanna a sentar numa cadeira. –Terá seu duelo, mas não usarei minha lâmina. _Afrouxou o cinto que comprimia sua túnica, cuja espada longa pendia dentro de uma bainha de couro. –Usemos as mãos! Não quero sujar o local com o seu sangue. De acordo? _Jogou o cinto com a espada embainhada no colo da jovem.

-Justo! _Zafar colocou a adaga sobre a mesa. De repente, todos os soldados se calaram, com os olhares atraídos para os dois. O rufião, atrás do balcão, simplesmente cruzou os braços, esperando que nenhuma mulher se ferisse ou nada fosse quebrado em seu estabelecimento. Arpello mastigava seu bigode, costumava fazer isso quando estava ansioso. O vozerio só se instaurou novamente, quando um dos soldados, um homem de nariz curvo, bigode fino e cabelo emaranhado na altura do ombro, rompeu o silêncio. 

-QUEBRE O NARIZ DELE, CETHUS! _Os soldados das mesas próximas começaram a comemorar, ao passo em que os das demais mesas apenas conversavam entre si, com os olhares focados na contenda.

Sem qualquer tipo de aviso, Cethus projetou o pé esquerdo para frente e socou com a direita, atingindo a face de Zafar, que cambaleou desconcertado e derrubou uma cadeira. Aproveitando a situação, deu três passos adiante e cruzou com a esquerda, mas Zafar conseguira se recuperar do susto para tirar o rosto da direção do golpe. Sentiu o vento do punho soprar no seu rosto, antes da esquerda novamente amaciá-lo. O punho ossudo do soldado rompeu o supercílio, e ele pôde sentir o sangue quente correr por seu cenho.  Após conseguir se firmar, o Shemita aproveitou a distância encurtada entre eles para levar rapidamente o punho cerrado em direção ao estômago do atacante. Ficou gratificado com o som abafado de seu golpe, e então se afastou dois passos, enquanto o soldado recuperava o fôlego. 

-Espero que saiba que eu só vou parar de te bater, quando não puder mais abrir os olhos. _Praguejou Cethus com o olhar ardendo em fúria. O soldado encurtou a distância novamente, de forma imprudente, mergulhando Zafar em uma saraivada de golpes. Tentou ficar longe e aparar a maioria, mas o homem estava em cima dele, martelando os punhos no estômago e nos rins. Os socos vinham de todos os ângulos, e quando a dor finalmente o fez se curvar, sofreu um golpe no rosto de baixo pra cima que o fez balançar pra trás. Caiu e permaneceu desconcertadamente de quatro. Sentiu o gosto do sangue e seu olho esquerdo estava se fechando, inchado sob o ataque do homem enfurecido. Cuspiu uma mistura de sangue com saliva, provocando uma linha rubra entre sua boca e o assoalho de madeira. Cethus ficara parado, como se a vontade de vê-lo morto tivesse desaparecido. No entanto, insistente, Zafar se levantou...

O Shemita deu três passos para trás, para ter tempo de se recompor, mas Cethus partiu para cima sem qualquer resquício de remorso, movendo a cabeça e o corpo, procurando o melhor lugar para acertar. Zafar desviou do primeiro soco, sentindo o antebraço deslizar em seu rosto manchado. Em resposta, levou seu punho direito novamente ao estômago do soldado com toda a potência de seus ombros, e foi recompensado com o ofegar de dor. O segundo soco, no entanto, atingiu novamente Zafar... Um cruzado de esquerda na altura do queixo. O mundo ficou negro e ele caiu, mal sentindo as tábuas de madeira embaixo. De quatro novamente e esbaforido como um animal, não fora poupado dessa vez. A bota de Cethus o atingiu nas costelas, e ele desabou com as costas no chão. A contenda havia terminado, mas ainda existia impetuosidade inundando o interior do homem de pele clara e ombros largos. 

Cethus montou no corpo impotente de Zafar, o segurou pelo colarinho do gibão e começou a socar seu rosto repetidamente. Depois do primeiro soco, o Shemita já havia perdido a consciência, ainda assim, o instinto violento ditava as atitudes do soldado. Depois do primeiro, veio o segundo, o terceiro, o quarto... O punho escarlate subia e descia com o impulso do ombro. O rosto de Zafar, inchado e empapado de sangue, nem esboçava mais dor. Com os olhos virados e a boca debilmente aberta, ele estava à mercê dos impulsos frenéticos de Cethus. Contudo, antes que o quinto soco o acertasse, um braço forte e penoso o deteve. Era Arpello...

-Já é o suficiente, homem... _O tirou de cima de Zafar. –Pegue a garota e suba, ou vai acabar matando o cão. _O soldado cuspiu como sinal de desprezo a Zafar e foi até Hanna. Colocou o cinto e a agarrou novamente pela cintura. 

-Homem! _Cethus, ofegante, chamou a atenção de Balthus, que perdia o olhar assustado no corpo caído de Zafar. -Leve seu companheiro embora! Não há mais nada para ele fazer aqui. –Balthus assentiu e se levantou para ajudar seu amigo, enquanto Hanna era levada para um dos quartos do andar de cima.

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